terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mudanças

É tempo de se pensar em mudanças, até parece que no dia 1° todas as aflições de 2009 ficarão como o ano que termina, encerradas. Porém, não resolvidas.
A virada do ano traz uma euforia simpática, um esperar saudável. No entanto, a única coisa que realmente muda é a página da folhinha.
Sempre tive horror a mudanças, infelizmente, mudar para mim sempre envolve algo ruim, poucas foram as mudanças que trouxeram algo melhor, por isso o medo do novo, do inesperado, do não-calculado.
Sempre procurei prever, ou ao menos entrever os acontecimentos da minha vida. Tudo devidamente dentro dos planos. Sou uma pessoa, como se diz por aí, que faz acontecer, eu não espero que façam nada por mim, eu tenho metas a serem alcançadas pelos próximos 40 anos.
Isso tem o lado bom, este de fazer as coisas acontecerem de uma maneira totalmente prevista, mas tem o lado ruim, eu fujo das mudanças não previstas.
Terminar um namoro sempre foi um problema terrível, eu gosto do cotidiano, gosto do dia-a-dia, do previsto. Isso pode parecer muito monótono, mas não é, absolutamente, é bom, é gostoso.
Eu planejo a comida, a corrida, as festas, toda a minha vida acadêmica, o meu futuro brilhante (espero eu), às vezes isso é meio duro porque para alguém que planeja tudo, nada pode dar errado. Não existe a menor chance de eu descumprir alguma coisa, de maneira que, se isso acontecer, eu vou me sentir péssima.
Estou escrevendo um texto que não vai chegar a lugar nenhum, justamente porque não foi planejado, eu cheguei aqui, sentei e comecei a escrever, justamente pensando na ideia de que mudanças me apavoram...
Tudo porque todo mundo só fala de mudar o cabelo, de fazer dieta, de ganhar na loto, de largar o cigarro, de levar uma vida mais saudável etc. Eu não pensei nada disso, eu penso nessas coisas o tempo todo... Eu levo uma vida saudável, eu faço dieta, mudo o cabelo, estudo muito, só não fico rica, o tempo todo... E tudo isso só porque está chegando um ano novo.
Já que eu tenho tudo aqui calculadinho, desejo para mim mesma que, no novo ano, eu tenha uma surpresa que me faça muito feliz.
Desejo a todos um ano incrível, cheio de realizações e surpresas, e que continuem não calculando nada porque isso cansa horrores!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A vida de cada um

Estou à espera das férias...
Esperando por um descanso depois de um ano tão confuso, tão cheio. Um ótimo ano é verdade, ainda não está na hora do meu balanço anual, então deixemos de melancolias. Mas é muito bom pensar que se realizou tudo aquilo que se queria.
Espero pelas férias para desfrutar do "ócio com dignidade", desfrutar da delícia de ser apenas eu, em minha própria companhia ou dividida com uns poucos queridos.
Tempo de diversão... De deleitar e deleitar, sorrir, dormir, comer.... ah que maravilha! Estudar, comer, dormir, acordar, sorrir, dormir... Vai ser magnífico, mais do que jamais foi.
Outro dia minha irmã me chamou de dominadora, falou que eu quero porque quero transformar a vida das pessoas de acordo com aquilo que eu penso...
Sabe que ela tem razão, por exemplo, eu nunca vou aceitar que alguém possa ser feliz sem cursar o ensino superior, não posso acreditar que alguém possa viver sem saber que a arte é libertadora, não posso conceber que algumas pessoas possam viver amarradas por cordas invisíveis que são mais fortes que todas as visíveis...
A ignorância, a falta de um mínimo de requinte e as amarras são as coisas mais detestáveis deste mundo ao meu ver.
Por isso me desespero, tento mudar, tento enfiar na cabeça da pessoa um pouco daquilo que há em mim, aquilo que demorei a aprender, que conquistei a duras penas. Às vezes, quero apenas poder ajudar as pessoas a não passarem pelas lamuriações e dificuldades pelas quais passei por acreditar em amarras invisíveis...
Mas não adianta não é?
Cada um tem que viver a sua própria vida, aprender por si próprio, porque o valor está justamente em aprender com o erro, uma vez que você se dê terrivelmente mal, nunca voltará a repetir o erro... é disso que é composto o aprendizado eterno. Não adianta eu tentar evitar porque a verdade é que mesmo minhas irmãs são donas do próprio nariz, mais influenciáveis por mim que a maioria... Mas ainda assim, estão por conta própria...
Boa sorte!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Para deleitar e aprender...



Para deleitar...




28 de novembro (sábado, 23h59)


Esta edição da Crew, festa da promoter, entre outras coisas, Lalai, que acontece no Clube Glória (Na 13 de maio, que todo mundo sabe onde fica), contará com a participação do produtor francês TOXIC AVENGER, que acabou de lançar o EP, Toxic is Dead. A festa rola no sábado, dia 28 de novembro, no Glória. Além deles:


Database & Fabilipo


I'm the Machine


Roots Rock Revolution


Sexistalk


Tchiello K.


Fabrizio Martinelli

e o MIXHELL (que eu estou louca para rever!)


O novo DJ residente também será anunciado na festa.


O preço da lista amiga é R$ 25,00 é só enviar o seu nome e dos brothers para festacrew@gmail.com




Nos vemos lá!




Para aprender e deleitar...




Os queridos professores do Russo na FFLCH - USP, Bruno Gomide, Arlete Cavaliere, Elena Vássina, Aurora Bernardini, Fátima Bianchi, Boris Schnaiderman, armaram mais um evento incrível para os amantes da melhor literatura do planeta...


Evento “Dostoiévski ontem e hoje” nos dias 1, 2, 3 e 4 de dezembro de 2009 no CCBB SP

DIA 1 DE DEZEMBRO
19:00h às 21:00h – Primeiro Encontro
Tema: Dostoiévski, nosso contemporâneo
Palestrantes:
Igor Vólguin (Presidente da Fundação Dostoiévski, Prof. Dr. da Universidade Estatal de Moscou / MGU,)
Boris Schnaiderman (Prof. Emérito da USP, autor, pesquisador e tradutor das obras de Dostoiévski)
Manuel Costa Pinto (Editor dos programas "Entrelinhas" e "Letra Livre" (TV Cultura), colunista da „Folha de São Paulo“ e editor do "Guia da Folha- Livros, Discos, Filmes)
Mediador e Debatedor: Bruno Gomide (Prof. Dr. de Literatura Russa , USP)
21h às 22h – projeção O IDIOTA – filme de Frank Castorf , parte 1

DIA 2 DE DEZEMBRO
19:00h ás 21:00h – Segundo Encontro
Tema: O Universo das Idéias na obra de Dostoiévski
Palestrantes:
Deborah Martinsen (Presidente da Sociedade Internacional Dostoiévski, Profa. Dra. da Columbia University , USA)
Fatima Bianchi (Profa. Dra. da Literatura Russa da USP, Representante da Sociedade Brasileira de Dostoiévski)
Bruno Gomide (Prof. Dr. de Literatura Russa, USP)
Mediadora e Debatedora: Elena Vássina (Profa. Dra. de Literatura Russa, USP)
21h às 22h – projeção O IDIOTA – filme de Frank Castorf , parte 2

DIA 3 DE DEZEMBRO
19:00h ás 21:00h – Terceiro Encontro
Tema: Dostoiévski x Teatro e Cinema – Uma atração irresistível
Palestrantes:
· Elena Vássina (Profa. Dra. De Literatura Russa, USP)
· Aury Porto (Ator e Diretor teatral)
· Cibele Forjas (Diretora Teatral)
Mediador e Debatedor: Ruy Cortez (Diretor e pedagogo teatral).
21h às 22h – projeção O IDIOTA – filme de Frank Castorf , parte 3
DIA 4 DE DEZEMBRO
19:00h ás 21:00h – Quarto Encontro
Tema: Dostoiévski e a Cultura Contemporânea.
Palestrantes:
Frank Castorf (diretor de teatro e diretor artístico do teatro de vanguarda de Berlim Volksbühne, adaptou para o teatro e cinema “Os Demônios”, “O Idiota”, “Crime e Castigo” e “Humilhados e Ofendidos” de Dostoiévski)
Aurora Bernardini (Profa Dra da Pós-graduação em Literatura e Cultura Russas da USP, pesquisadora e tradutora dos escritores e poetas russos)
Arlete Cavaliere (Profa Dra de Literatura Russa, USP),
Mediadora e Debatedora: Silvana Garcia (Profa Dra USP, autora de “As Trombetas de Jericó. Teatro das vanguardas Históricas”)
21h às 22h – projeção O IDIOTA – filme de Frank Castorf , parte 4
Apareça porque Dostoiévski rende assunto infinito! Já disseram, apenas na literatura de Dostoiévski você pode encontrar todas as coisas e convenhamos que falar de todas as coisas vai levar um bocado de tempo...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mundo esquisito...

Não é que ontem parecia que o mundo ia acabar mesmo.
À tarde uma amiga recebeu uma carta estranha, com um criptograma que dava no número da Besta... Eu nem dei bola, mas foi mesmo um dia estranho.
Aconteceu uma pequena coisa que tornou o meu dia melhor, o que me deixou muito contente.
Mas isso foi só até o final da minha última aula, imagina que eu moro na Zona Leste e estudo na Zona Oeste... USP, sim... lá mesmo. Imagine agora que a eu estava lá na USP quando o Brasil apagou.
Chegando na Paulista, a porta do Metrô Consolação era um mar de gente desesperada, todo mundo ligando para alguém vir socorrer, eu só pensava em Creep do Radiohed, porque eu nunca tinha me sentido tão perdida, no sentido físico, como ontem à noite. Eu nem tinha alguém para "vir me pegar".
Chegar em casa foi uma novela... Cheguei bem, mas fiquei com muito medo pelo que ainda está por vir. O mundo, de fato, não vai acabar, mas coisas estranhas vão passar a acontecer com tanta frequência, até que, num triste dia, deixarão de ser estranhas e passarão a ser cotidiano. Igual à bala perdida no Rio, menino pedindo dinheiro no semáforo, gente pegando comida no lixo, eu sempre me pergunto em que momento da vida ou da história as pessoas passaram a olhar fenômenos de uma época, ou até mesmo desgraças cotidianas como cotidiano...
Anteontem, eu reli As três irmãs, do Tchekhov, e fiquei me lembrando do quanto ele afirmava, sempre, em todas as suas peças, que o trabalho das pessoas daquela época seria visto como algo maravilhoso: Daqui cem ou duzentos anos. Ele dizia que o mundo se tornaria um lugar maravilhoso... O que nós fizemos com os sonhos do Tchekhov?
O mundo não é um lugar maravilhoso, e a metamoforse do anormal em cotidiano, que tanto apavorava o autor, tornou-se algo muito mais banal do que ele tinha imaginado...
Nos shows que faria em julho passado, Michael Jackson queria mostrar ao mundo que nós temos apenas quatro anos para mudar nossas escolhas com relação ao futuro do planeta, pois em quatro anos, segundo estudiosos, os danos serão irreversíveis...
Tanta gente dizendo a mesma coisa... Já é hora de prestarmos atenção, não?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Adeus Claude Levi-Strauss


Hoje, parece óbvio que somos todos iguais...
Há alguns anos, não parecia e nem era tão óbvio, na verdade a obviedade dessa afirmação, hoje tão comum, só é possível porque este ilustre senhor aí ao lado disse isso de maneira bem estruturada e elaborada pela primeira vez na história.
Ele disse aquilo que todos deveríamos saber, um ser humano na África tem o mesmo potencial de um americano, por exemplo. Hoje, há quem não concorde com sua tese integralmente e há realmente uma série de fatores que separam um africano de um americano... Mas, sem entrar no mérito da questão, só queria agradecer o magnífico antropólogo por contribuir para um mundo melhor, por criar a minha querida faculdade, da qual só sairei de bengalinha... se Deus quiser.
Tem gente que passa por este mundo assim, como um nada e não faz nada de incrível em sua existência, e há homens como Levi-Strauss que transformam este mundo em lugar mais habitável, não por um dia... mas para todo o sempre!

domingo, 25 de outubro de 2009

Os anos desfeitos...

É, hoje comemoro mais um ano desfeito... e muito bem aproveitado por sinal.
Tive um ano incrível, cercada por gente maravilhosa, fiz amigos inesquecíveis, aprendi coisas novas. Hoje sei mais sobre mim do que sabia há um ano, uma conquista, se conhecer melhor é sempre um presente...
Sei mais daquilo que gosto e daquilo que não gosto.
Sêneca dizia que não temos a idade feita e sim os anos vindouros...
Verdade.
Não "tenho" 29 anos hoje, me desfiz deles...
Tenho pela frente todos os anos que me forem concedidos, porque esses 29 eu não tenho mais.
Tem dois anos que estou correndo atrás de um tempo perdido. Agora, acredito que recuperei o tempo perdido sim... Não tenho mais a sensação de que perdi muitas coisas por causa dos anos de estagnação e paralisia.
Amanheci com a sensação de que tenho toda a vida pela frente, uma vida inteira significa que eu posso fazer do meu amanhã aquilo que bem entender. Como eu gosto de dizer, eu não vim para este mundo a passeio, logo, já faz um tempo que minha vida tem um vivo propósito...
Ainda penso em melhorar o mundo de alguma maneira. Mas, não vou mentir, há dias que eu só desejo sair daqui com a minha dignidade.
Oscilo entre um ponto e outro, mas sem perder de vista aquilo que eu desejo...
Obrigada a todos os queridos que fizeram do meu ano um ano maravilhoso e transformaram meus dias vazios em acontecimentos cheios de felicidades...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Feriado








Saldo:
Lavoura Arcaica;


Estômago;


Budapeste;


Dr. House;


Ismail Xavier;


Beirut;


Los Hermanos;


Debussy;


Jane Austen;


Visita ao parentes.




Ando sem tempo para nada, ser feliz me consome muito!


(Clarice Lispector)
Ao lado, minhas duas queridas Jane Austen e Clarice Lispector...








sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Diálogos do Cotidiano

- Oh mano, você ainda tá namorando?
- Eu tô, fielzão... gosto pra caraio da minha mina.
- Legal!
- E você, tá namorando?
- Ah mano, eu tô né.
- Tá namorando sério ou continua pegando todas mina que aparece?
- Vixi mano, nem te conto, semana passada fui pro motel com uma mina aí, e fui assaltado...
- Mano, você não toma vergonha mesmo, não aprende... então não namora, porque eu posso até ser mó chifrudo, mas eu tô fazendo minha parte. Mas e daí levaram o que?
- O filho da puta levou 30 conto meu e sumiu.
- Você viu a cara dele?
- Claro que vi, ele tava na minha frente.
- Ele era preto? Porque bandido é tudo preto.
- Pior que não, o cara nem era preto.
- E a mina? Ficou com medo?
- Ah sei lá daquela arrombada... que se dane!
- Por que você trai sua namorada? Você gosta dela não é?
- Mano, porque eu sou homem cara! E a mina queria dar pra mim, porque eu não ia comer?
- É né? tem dessas. Ainda bem que eu não penso assim. E aquela mina que você catava? Você chegou a comer ela?
- Puta! Nem comi cara...
- Mas quase comeu né? Viu a "menina" e tudo, pelo menos né? Porque a mina é mó gostosa, que pernas!
- A claro que vi a "menina", nossa fiz um monte de coisa com ela, a gente só não terminou porque ela não é assim uma vagabunda né?

No Gênesis está escrito mais ou menos assim: "O número dos tolos é infinito."
Pobre povo sagrado, nem podia imaginar como a coisa ia piorar.

"Quanto mais refinada uma pessoa se torna, mais infeliz ela é"
Anton Tchékhov

domingo, 27 de setembro de 2009

A cena independente...


Sexta-feira foi um arraso!
A edição de setembro da festa Bang! foi sensacional...
Blood Shake destruiu com um set pesado para ninguém botar defeito, como gostamos de dizer “eles desceram a lenha”.
Fizeram um set super bem humorado, cheio de anos 90, maximal e o famoso funk sempre presente nas apresentações da dupla. Laka e Zero destruíram mais uma vez e não é por acaso que a partir da próxima edição a festa ocupará todo o Vegas, não mais apenas o basement, se bem que eu desconfio que do basement eu não saio por nada... Afinal, é onde Zero e Laka tocarão.
Tenho encontro marcado com a dupla logo menos, já que eles são os convidados super especiais para edição de outubro da It’s alive, a festa que já começou como um sucesso e segue os passos da famosa festa Crew da promoter e dj Lalai. Tem tudo para ser, se já não é, uma das melhores festa da cidade.
Muito bom saber que tem tanta gente boa fazendo música de maneira independente. Gosto de pensar que nós consumimos o que a maioria não consome, quando digo “nós”, me refiro ao tantos, que como eu, admiram o trabalho independente, gostam de como ele é feito e principalmente de como é divulgado.
Sabemos que tudo é bom e que um dia passa a ser produzido em escala comercial teve um início bem modesto. Às vezes é só a coragem de alguém muito capaz, mas que ainda desconhece sua capacidade, de criar, de colocar uma série de pensamentos em prática. Alguém em um quarto qualquer em um cantinho da cidade, seja na Zona Leste, ou onde quer que seja, um indivíduo com uma idéia na cabeça se senta e busca meios de colocar seus pensamentos em ação.
É assim que nasce a maioria das grandes ideias, da vontade de uma pessoa.
Essa talvez seja a aptidão mais interessante do ser humano, a capacidade que tem de produzir e mudar o mundo à sua volta com pequenos feitos.
De início, somos tachados de estranhos. Somos os fulanos que curtimos um som diferente, num inferninho, apreciamos aquilo que pouca gente sabe que existe, então saímos do inferninho e partimos para os grandes lugares, aqueles de projeção nacional, muitas vezes mundial. Então, já não somos estranhos, passamos a ser apenas mais um. Somos mais um a gostar daquilo que todos gostam.
Acho muito engraçado o fato de que justamente nessa etapa, quando finalmente chega o reconhecimento, perdemos o interesse...
Sabe por que perdemos o interesse?
Porque nós sempre soubemos que aquilo era bom, nós víamos além. Ficamos felizes pela descoberta do resto do mundo, torcemos pelos nossos queridos que alçam vôos maiores, mas quando aquilo que amamos torna-se um produto a ser consumido por muitos, torna-se pasteurizado, nós simplesmente procuramos algo novo para amar...
Somos conhecidos como estranhos, nerds, descolados, geeks, undergrounds, alternativos... Procuram vários rótulos para nos intitular, mas a verdade é que não temos rótulo, nós somos apreciadores daquilo que é novo, daquilo que guarda a fagulha de coisa mágica, daquilo que mostrar que o ser humano é capaz de se sobressair mesmo dentro de um sistema que o sufoca.
Lembro agora do termo utilizado por Ezra Pound, o artista era para ele “a antena da raça”, ele era fascista, por isso falava nestes termos, mas mesmo estando equivocado, como a história provou, ele sabia sobre o que estava falando quando o assunto era arte.
E eu adoro pensar que eu, juntamente com meus amigos “diferentes”, podemos reconhecer estas anteninhas por aí...
Em um filme maravilhoso, Amadeus, que conta a trágica história do gênio Mozart, dirigido por Milos Forman, há um personagem, o famoso maestro Salieri (interpretado lindamente por F. Murray Abraham), ele diz mais ou menos o seguinte: “Oh Deus! Por que me destes o poder de distinguir o belo e não o de produzir o belo?”
Salieri também era muito bom, mas não era um gênio como Mozart, mas ele podia enxergar a genialidade de Mozart e isso o exasperava, ainda que só ele visse as qualidades com clareza suficiente. Mozart foi considerado em seu tempo, como a maior parte dos grandes artistas de que temos notícia, um estranho, um maluco.
Ao contrário de Salieri, me sinto muito feliz por conseguir separar o joio do trigo. É gratificante, é como ter um pequeno dom. Nem sempre dá certo, oras, somos todos humanos.
Além do mais não temos muita clareza sobre o quanto algo é bom, ou se estamos certos ou errados, só sabemos que gostamos e que vemos algo que é ao mesmo tempo novo e belo em lugares pouco prováveis, então passamos a admirar sem nos preocupar muito com onde isso vai dar... A graça é que não estamos preocupados com isso, só estamos seguindo os nossos instintos...
Estamos indo atrás daquilo que amamos.

domingo, 20 de setembro de 2009

Besteira...








Engraçado como a maior parte das coisas que consideramos importantes são bobagens. A noite mal dormida por causa da preocupação com algo no serviço, o medo de ir mal no trabalho da faculdade, o pavor de errar no look para determinadas ocasiões, o constrangimento injustificável de se dizer a coisa errada, as comparações bobas que fazemos com algumas pessoas.
No final, dá tudo certo não é? Como na música... “Don’t worry, be happy”
A única coisa que importa é a liberdade não é? Ser livre, estar livre, sem amarras...
Entendo que para alguns conforto é prender-se. Eu não sou assim, não posso ser...
Venho aprendendo dia após dia a como não me preocupar, tem dado certo. Estou tão mais feliz, minha vida tem sido tão boa, tão cheia de momentos agradáveis...
Às vezes a gente erra.
Nessa semana, perdoei do fundo do coração alguém que me magoou profundamente, uma situação estranha com gente me maltratando fez eu me lembrar de como é ruim ser maltratado, xingado, então eu perdoei... Não da boca para fora, de verdade.
Passei por situações difíceis suficientes para saber que de toda situação, por mais negativa que seja, tiramos algo de positivo para nossas vidas... Foi pensando assim que consegui me tornar o ser humano que eu sou.
Enfim, a gente erra muito para aprender as coisas. Cada um tem seu modo de pensar não é?
O inferno para mim pode ser a felicidade do outro, que bom que a vida é assim, pois dessa maneira há possibilidade de todos sermos felizes...
Sabe, eu gosto de Deus... eu acredito nessa força superior que rege o universo. Mas eu aprendi, também vivendo, que corajoso mesmo é aquele que é bom assim de graça, sem o medo do castigo divino, ou do olhar de algum ser superior.
Só que, pela minha cartilha, não há certo ou errado... Todos podemos tudo. O único limite entre o que é certo e errado é quando ignoramos a condição humana do outro, desprezando, humilhando, ridicularizando... Tudo isso é besteira.
Gente fina, como dizem, não liga para o que os outros falam, apenas vive e vai passando, deixando que os outros fiquem para trás ou sigam consigo.
Só somos seres humanos melhores depois de muitas coisas sofridas.
O que importa de verdade na vida são as pessoas que amamos, o “bom dia” dos entes queridos, o olhar amoroso daqueles que nos admiram, as lembranças boas daqueles que partiram, ir a uma exposição e ficar feliz porque a arte vence a morte, ouvir uma boa música e lembrar que nada é por acaso, que tudo no universo está em círculo... São essas coisas que importam, o resto? O resto é bobagem.
Por falar em arte, essa semana fui à abertura da exposição Virada Russa, que trouxe quadros de Kandínski, Maliévitch, Chagall, entre outros, do Museu Estatal de São Petersburgo. Entre os mais famosos, estão o Círculo e o Quadrado Negro, além da Cruz Negra de Maliévitch.
Dei a sorte, graças ao meu amigo querido Felipe, de ir na abertura oficial, da qual participara apenas convidados. Tomei um monte de Stolitchnaia, saboreei alguns pratos típicos, mas me deliciei de verdade foi com a belíssima exposição, tão bem organizada pelo curador Rodolfo de Athayde. As obras ficaram expostas de maneira bastante coerente com os movimentos de vanguarda russos... Uma felicidade que essa exposição tenha vindo até nós, já que nem todos podemos ir até a Rússia.
Quem puder ir e tiver interesse na maravilhosa arte russa, a exposição fica até 15 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil, um casarão lindo bem pertinho do Pátio do Colégio. Eu devo voltar lá quantas vezes me forem possíveis... Tão mágico saber que Maliévitch e tantos outros sobrevivem através da arte que criaram... Foi um dia muito feliz, mesmo. Encontramos com a Elke Maravilha que é uma graça... muito simpática.
Na semana anterior, eu fui a uma noite de autógrafos, o professor Luis Mauro de Sá Martino lançou oficialmente seu livro Teoria da Comunicação. Uma simpatia o professor, quem quiser se divertir com as sacadas inteligentes dele é só acessar: alquimiadoverbo.zip.net
Já falei sobre Schiller aqui, certeza que sim, eu devo falar dele o tempo todo...
Então, aquilo que ele dizia sobre a arte, ele tem razão... Para mim, 100% de razão.
Pena que seja tão difícil ser plenamente feliz em um mundo tão desigual.
Já ia me esquecendo... Minha revista preferida, a Caros Amigos, publicou minha carta...
Resumindo, tive uma semana maravilhosa, que fechou com chave de ouro com coxinha do BH às quatro da madruga e café da manhã reforçado no Athenas... A-do-ro!
Flaviuska

sábado, 12 de setembro de 2009

Maldade...

Fiquei tão triste hoje... triste infinitamente...
Pela primeira vez na vida escrevi meu nome completo em algum lugar, foi no post anterior a este, em homenagem à minha querida vovó, e alguém usou meu nome indevidamente... querendo me prejudicar. Eu não sou um anjo, ninguém é afinal...
Mas eu não merecia uma coisa dessas.
Enfim... só peço que me deixem em paz porque eu não quero o mal de ninguém, essa foi a primeira vez na minha vida que vi alguém desejar que eu desaparecesse do planeta...
Se é isso o que querem, deixem a preocupação de lado... me ignorem, finjam que eu morri... acabo de sumir. Desejo toda a felicidade do mundo seja para quem for que seja do bem...
Mais triste ainda por terem feito isso comigo bem no post tão lindo que escrevi para a vovó querida...
Outros desejam minha presença, vou me dedicar a esses que querem meu bem e anseiam pelo meu amor.
A triste banalidade do mal... até aqui...

sábado, 5 de setembro de 2009

A neta e a avó

A menina devia ter uns quatro anos...
A avó lhe fez comida, a mistura da neta era um ovo e a da avó um pedaço de carne, um pedaço pequeno. Eram arroz, feijão, farinha e uma misturinha.
A neta vendo a mistura da avó resolveu que também queria um pedaço de carne, como não havia um outro pedaço de carne, a avó tirou o pedaço de carne que ela já mastigava de dentro da boca e deu à neta.
A neta comeu o pedaço de carne da avó e o ovo, de forma que a avó ficou sem mistura, mas ela não se importou...
Ela abraçou a neta e gostou que ela tivesse comido a carne...
A neta nunca poderá esquecer este dia, ainda que viva mil anos.
À neta foi concedida a dádiva de viver e ser criada pela gentil senhora por 27 anos, num 7 de setembro, a avó partiu, uma doença estranha a levou sem essa nem aquela.
Um dia a neta e a avó estavam assistindo TV, então a neta olhou para a avó e achou que ela estava fazendo uns movimentos muito estranhos, língua, boca e braços se moviam de maneira descompassada e involuntariamente.
A neta preocupou-se. Chamou a irmã que veio passar a noite com a avó até ela chegar.
Fazia um inverno muito rigoroso naquele ano de 2007, então a neta pensou que podia ser por frio que avó fazia aqueles movimentos.
Comprou um aquecedor.
Não adiantou, não era frio, de certo não era...
A neta chorou, chorou, chorou...
Pediu a Deus encarecidamente que não fosse nada e que tivesse cura com remédio de farmácia, tomado de oito em oito horas por alguns dias.
No hospital público do bairro onde moravam ninguém sabia dizer o que causava aquele descompasso na avó. A neta assustou-se, uma doença que no hospital não conheciam, só podia ser algo bem ruim.
Levou a avó ao Hospital das Clínicas, lá, já na porta, um médico muito jovem perguntou:
- Ela está com Coréia?
A neta não sabia, nunca tinha ouvido falar em uma doença chamada Coréia.
A neta e a avó ficaram no hospital durante todo um dia, saíram de lá por volta de 21 horas, não tinha jeito, essa tal Coréia não se curava com remédio de farmácia, na verdade aquilo não tinha cura, mas a neta não sabia e o médico também não quis dizer para não magoar.
A avó foi perdendo a memória pouco a pouco, um dia a neta entrou e ela a olhou com um olhar vago, que não estava mais aqui neste mundo... Os olhos olhavam, mas não reconheciam a neta. Quem seria aquela? Eles pareciam perguntar.
Passou a chamar a neta de nomes variados sem ter idéia de que aquela era neta que ela criou, a neta a quem ela transmitiu tudo de melhor que podia.
Apesar de ser muito conhecida pela braveza, pela falta de paciência, uma palavra para definir a avó seria “finura”.
A avó apesar de ter sido faxineira e depois passadeira, não saber ler nem escrever, era fina. Gostava de música clássica, porque é suave, ela dizia. Gostava demais do som do acordeão porque lembrava sua terra.
Jamais falava palavrão.
Nunca tinha as mãos sujas.
Sempre usava uma peça vermelha, sua cor preferida.
Sempre passava perfume.
E sempre recomendava, “tem que passar blush sempre”.
Mesmo um ano após sua morte, suas roupas têm o mesmo cheiro de lavanda.
Não sabia ler nem escrever, é verdade, mas sempre admirou as letras e achava muito bonita a profissão de professora, porque, para ela, ser professor era ter quase um dom divino, é o dom de desvendar aquele universo que ela não compreendia.
Eram a avó, a tia e a neta, que moravam juntas.
A tia morreu...
A avó sobreviveu porque precisava ficar com a neta.
A avó se orgulhava tanto de nunca ter feito uma cirurgia na vida, tinha horror a hospitais.
Quando viu que estava fadada a ir e vir de hospitais, tratou logo de morrer, porque ela sabia que aquilo não era para ela.
A avó nem conseguia entender muito o que de fato ela havia feito pela neta.
A neta cresceu achando ser professora uma coisa muito bonita mesmo e fez Letras na faculdade, estudou todas as artes na melhor universidade do Brasil...
Aprendeu que ensinar é mesmo um dom, descobriu que a avó tinha razão, o saber mudar a vida das pessoas.
A tia sempre dizia à neta, que também era sua sobrinha, que o saber é a única coisa que nunca será roubado de quem o tiver.
A neta e sobrinha ouviu atentamente as indicações dos dois serezinhos que a criaram com tanto amor e sacrifício. Juntou os sonhos das duas, meteu-os na cabeça e traçou um objetivo e foi assim que uma analfabeta e uma semi-analfabeta mandaram alguém para Universidade de São Paulo.
Se para elas, a vida foi muito difícil por não ter o domínio das letras. A neta tratou de fazer das letras seu ganha pão... Estudou e se aprimora a cada dia, tornou o sonho das parentes amadas realidade, tornou-se uma pessoa refinada sem esquecer jamais suas origens.
Daqui dois dias, faz um ano que avó morreu, seu espírito deixou o corpo doente...
Apesar da dor cruciante que a neta sente, ela sabe que a avó não morreu porque parte dela vive na neta, assim como viverá nos filhos da neta e assim sucessivamente por toda a eternidade.
A neta chora quando ouve acordeão ou quando pega o livro que avó folheava porque achava bonito. Sempre perguntava à neta sobre o que falava aquele livro. O livro fala sobre os arquétipos literários, de um autor russo... Meletínski.
Desde cedo, a neta fora desafiada pelas pessoas que achavam que pobreza era sinal de incapacidade... Hoje, até russo a neta fala...
Sempre existiram pessoas para dizer que ela não era capaz e hoje a frase de honra da neta é: Eu sou capaz de tudo, de qualquer coisa e ninguém pode me provar o contrário.

Eu, a neta Flávia, agradeço por demais a minha avó, Erundina, pelos infinitos pedaços de carnes que tu me destes na vida, mas sobretudo por me ensinar e me mostrar que eu sou capaz de comprar todos os pedaços de carne que eu desejar comer.

Flávia, neta de Erundina e sobrinha de Raimunda, com muito orgulho.



Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 21 de julho de 2009

Debret e a escravidão...




Tive que fazer um post de emergência.


Hoje eu vi uma loucura digna de intervenção, quando eu acho que neste país já acontece tudo de mais maluco que pode acontecer a uma pátria, sou surpreendida, sempre!


Ao folhear uma revista de arquitetura, eis que encontro entre os possíveis itens de decoração umas almofadas com estampa das telas de Debret, e, se você quiser, também pode fazer o sofá inteiro e colocar no meio da sua sala o seu próprio Debret.


Se não fosse trágico, realmente seria cômico... Não consigo pensar em outra expressão, essa muito batida diz exatamente o que eu quero dizer.


Como assim alguém quer ter seus próprios "debrezinhos" em casa, para sentar em cima ou recostar a cabeça?


Qual é o nosso problema hein?


Nós amenizamos tudo, criamos eufemismos para tudo e de repente, záz, as coisas mais terríveis ganham um ar de naturalidade.


Aquilo é a escravidão... A coisa mais terrível que já aconteceu no nosso país.


Não é para dormir em cima da representação daquilo, é como ter a foto de mortos dentro de um caixão enfeitando a sala.


Faça-se a seguinte pergunta: Por que os alemães não colocam estampas de judeus vítimas do holocausto com os seus uniformes listrados de azul em suas almofadas e sofás? Assim no meio da sala, como item de decoração.


Uma das respostas possíveis e a mais óbvia de todas: Porque eles se envergonham horrivelmente da monstruosidade que fizeram aos judeus, isso não é motivo de orgulho nacional, é uma página que eles gostariam de arrancar para sempre do livro que conta a história daquela nação.


Então, façam a gentileza de pensar antes de adquirir um móvel "legítimo" colonial, ou um "debrezinho". Esses são motivos de vergonha. Ou será que alguém aí tem saudade do Brasil Colônia e da Escravidão?


Mais um exercício: Olhe a obra do Debret artista, analise ela, mesmo que seja com um olhar de leigo.


Verá que há um descompasso qualquer nas coisas. Pesquise a história de Debret, o mínimo que seja, dando um Google nele por exemplo, descobrirá coisas incríveis sobre a história maravilhosa desse artista.


Então, você entenderá que tudo na obra de um artista tem razão de ser. Ele não pintava os escravos sofrendo porque achava bonito...


Pode acreditar, este não era o motivo.


domingo, 19 de julho de 2009

Hoje é domingo!

Quando acordo de manhã no domingo, bem cedo para aproveitar melhor o dia, sempre penso em como é bom ser sozinha.
Eu planejo sempre mil coisas que farei durante o dia. Por exemplo, assistir a três filmes que EU quero ver. Ler um livro quase inteiro, ou inteiro, em um único dia simplesmente porque estou com vontade. Ir ao concerto à tarde porque EU adoro música clássica. Ir ao concerto, ao cinema e ao teatro, tudo em um mesmo dia, porque EU gosto de overdose de cultura.
Aliás, eu gosto das coisas assim, todas aos montes. Intensidade.
Acordar às 7 da manhã e sair para correr, voltar e ouvir as músicas mais variadas possível. Ouvir Radiohed, Los Hermanos, Beirut, Beethoven, Mozart, Bach, Bossa Nova. Tudo misturado, porque é assim que EU quero.
Comer trinta fatias de sashimi acompanhas de suco de uva. Comer comida vegetariana, porque eu me sinto bem com isso.
Daí, aos domingos, eu costumo desligar os telefones.
Eu detesto telefonemas, sobretudo aos domingos. Tenho o meu dia inteiro planejado e meu plano, no geral, envolve estar centrada única e exclusivamente em mim, já que no resto da semana eu preciso me concentrar quase que unicamente naquilo que os outros querem.
No domingo, eu me isolo, fujo das conversas banais, quando quero gente, busco aquelas que realmente importam, que se importam comigo e com o todo.
Tudo isso se chama liberdade?
Como disse Clarice Lispector: Liberdade? O que eu quero ainda não tem nome.
Hoje é o único dia da semana em que me preocupo apenas comigo.
O dia em que tenho a sensação de que minha cabeça está leve como uma pluma. Ainda que eu saia por aí, é como se as coisas externas não conseguissem chegar em mim, não conseguem me atingir ou mudar meu estado de humor.
Gosto de não me exaltar nos domingos e deixar tudo aquilo de bonito, que fica reprimido na maior parte do tempo, fluir... Jorrar como água limpa. A água esperada.
Tive muitos domingos de surpresas terríveis, minha avó faleceu em um domingo triste do último setembro...
Domingo sempre foi o meu dia da semana, desde pequena sempre adorei domingos. É um dia tão mágico para mim que resolvi elegê-lo como o dia em que acordo para coisas do espírito. No domingo, eu simplesmente não estou.
Domingo é o dia das coisas mágicas, de inspiração, de autoconhecimento, quando é possível, da catarse, e sempre é o dia das epifanias. Preciso desse dia para que todo o resto da semana faça algum sentido.
Bom domingo para vocês.
Se precisarem falar comigo, procurem-me amanhã porque hoje eu não estou para ninguém!

O som de hoje? Radiohead – sempre!

domingo, 12 de julho de 2009

Lições...

Estranha essa semana...
Que dia é hoje?
Domingo...
Foram quatro dias livres, sem chefe, sem cartão de ponto.
Noites em claro...
Descobri coisas boas nestes dias e outras nem tanto.
Ouvi Death Cab for Cutie até cansar, quase tive uma overdose cinematográfica. Revi coisas que amo e assisti uns filminhos só para esvaziar. Li pouco é verdade... Saí muito, bebi muito, ri muito e, como de costume, observei muito.
Onde raios foi parar aquela adolescente desmiolada?
Ela ficou em algum lugar do passado junto com uma série de lembranças, aquela menina que saia para dançar e não olhava nada não existe mais. A Flávia de hoje observa tudo, se finge de boba para suportar algumas coisas, mas não está mais de fato entre os festeiros, é apenas uma “flâneur”, aquele da acepção de Benjamin, anda por aí, entra em diversos lugares, mas sai de todos eles como entrou, não há mais contaminação do ambiente. Eu olhos as roupas, os sapatos, percebo os olhares, me divirto com a boa música. Danço até meus pés suportarem, mas eu não levo para mim nada desses lugares frios.
Fico feliz por ser assim hoje, mas, infelizmente perdi a ingenuidade da adolescência que se encanta com as descobertas.
O observador está sempre a aprender alguma coisa, a buscar uma lição... Parece chato?
Talvez seja para quem está de fora, mas não é para mim.
Adoro observar o mundo, as pessoas, os comportamentos, é pena que eu me decepcione muito mais do que gostaria. Gente especial está em extinção.
Fiz um novo amigo neste burburinho... O Cello, um querido, uma pessoa doce, que ama o mundo das coisas rápidas e anônimas, o meu oposto. Mas, ainda assim alguém que vale a pena.
Não esperar talvez seja a única forma de não se decepcionar... Mas, como fazer isso?
Cada pessoa, cada acontecimento parece tão prenhe de porvir...
Ainda que o porvir não dê em nada, vale a pena continuar a procurar, é como toda coisa rara, a gente vai andando por aí e encontra n pessoas que detesta e, enfim, encontra uma que faz a procura ter valido. Nem falo de amor, falo de amizade, de sorrisos e camaradagens.
Hoje, como diria uma ex-amiga, tendo a acreditar que o Amor seja apenas o nome de uma famosa paçoca.
Terei que buscar algum sentimento recolhido com relação ao amor, vou fuçar no meu passado antes das decepções, tenho certeza que encontrarei uma linda lembrança para conseguir desejar ao meu querido amigo Maurício que sua nova vida, ao lado da mulher que escolheu, seja repleta de sonhos para que eles nunca possam se esgotar...
Uma ótima semana a todos nós, da próxima vez que escrever é provável que o Mauricio já esteja casada e eu estarei muito feliz ao observar sua felicidade.
O que posso fazer é o que faço de melhor, desejar tudo de bom, de mais bonito, muito bem, muita paz, prosperidade ao novo casal, tomara que possam me provar que tanto o amor quanto o casamento não são instituições falidas.

Felicidades!

Ao som de Brothers on a hotel bed, Death Cab for Cutie

domingo, 28 de junho de 2009

O imortal Michael Jackson


O que dizer sobre o Rei do Pop depois que tanto já foi dito?

Escrevo este post um tanto atrasada, mas também não posso ignorar o ocorrido.

Ligo a TV e começo a zapear enquanto procuro algum dvd. Então, em um canal uma tarja dizia:

- Morre aos 50 anos de parada cardíaca o cantor Michael Jackson.

Mas, só pode ser brincadeira. Michael era imortal não era?

Eu sempre achei que fosse. Ninguém capaz das coisas que ele era, poderia estar na mera categoria de humano, podia?

Mas era tão frágil quanto qualquer um de nós, ele morreu.

Vi, em um dos 200 documentários exibidos, que a única coisa que ele desejava era que sua música se tornasse imortal.

Lembro-me de quando eu tinha menos de 15 anos e era (sou) louca por dança. Comecei a frequentar a lendária Toco Dance Club, na Zona Leste de São Paulo, a mesma que revelou o dj Marky para o mundo. Eu só podia ir à matinê, mas era o suficiente. Então, quando eu entrava na casa, tinha um mar de gente, todos fazendo a mesma coreografia, "passinhos" ensaiados, todos juntos repetindo os mesmos movimentos.

Qualquer um que tenha acompanhado um pouco de TV nas duas últimas décadas sabe que isso só é possível por causa do Rei do Pop, que imortalizou seu jeito de dançar. Isso, só para falar da dança, Michael era músico, produtor, compositor, dançarino espetacular...

Michael é realmente eterno, digamos que nunca mais alguém pisará em uma pista de dança sem lembrar sua dança. Não é necessário saber quem ele foi. Dançar, hoje, significa trazer sempre um pouco de MJ para a pista.

Quanto ao que ele fez pela música negra, digo o mesmo da dança para a música. Se a música negra é da maneira como é hoje, e gente como Ne-yo, Justin Timberlake, Usher, Beyonce fazem sucesso, devem agradecer ao Rei do Pop.

Sinto que ele tenha precisado morrer para ser recolocado no trono de Reio do Pop. A mídia o matou há uns anos, agora o ressuscita, devolvendo o posto a quem o conseguiu por mérito.

O jornalista Pedro Beck, colocou no seu twitter logo que soube da notícia:

- Hoje (25 de junho), é o 11 de setembro do entretenimento.
Concordo...

sábado, 20 de junho de 2009

Mas há primaveras...

"A comunidade universitária e a opinião pública têm procurado, atônitas, acompanhar os acontecimentos recentes na Universidade de São Paulo. Como acreditar que professores, alunos e funcionários da USP, em especial da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sejam criminosos cujos atos merecem ser severamente reprimidos com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás pimenta? Como acreditar que querem destruir seu patrimônio, agir com violência e causar danos aos demais? quem acredita nisso? por quê?Se se compararem as informações e declarações dos últimos dias, será possível repor a situação. Em plena negociação salarial, em 25 de maio, a Reitoria fechou as portas do prédio e não deixou parte da comissão de negociação entrar. Ao agir assim e quebrar a regra da cultura democrática instituída, não era improvável que soubesse da reação dos estudantes que, impedidos de entrar, poderiam forçar a porta e fazer uma “invasão” relâmpago. Mas, depois dos acontecimentos de 2007, havia uma resolução do Conselho Universitário autorizando a Reitoria a chamar a polícia quando julgasse necessário, a qual foi aplicada.Docentes e estudantes sabem ensinar e estudar, principalmente. Talvez até, de um modo um tanto canhestro e desafinado, também saibam protestar. Alguns estudantes gritam e chegam a tirar cadeiras e pô-las diante das salas de aula, impedindo a entrada nelas – sinais de sua impotência, de sua insegurança e da desinformação acerca de outros canais de manifestação mais legítimos e eficazes, de que os professores (ainda) dispõem. Mas essa alegada “violência” estudantil não tem parâmetro com as armas usadas pela PM, treinadas para eliminar malfeitores, e descontentes... Inacreditavelmente, a atual reitora da Universidade de São Paulo pensa que sim!
Isto é ofender a USP e todos os seus membros. Pretextando grupelhos, radicais e sabe-se lá mais o quê, a Reitoria entregou a direção da universidade a um comandante policial. Ao ser alertada por um docente de que a presença da polícia no campus poderia causar graves danos físicos e morais a membros da comunidade, e de que as armas utilizadas pelas tropas contemplavam escopetas e metralhadoras, a reitora limitou-se a dizer que a escolha das armas adequadas à ação policial não era da sua alçada. A reitora transferiu sua responsabilidade pela vida dos estudantes, professores e funcionários, das crianças e adolescentes que estudam na Escola de Aplicação, e de todos aqueles que livremente transitam pelo campus Butantã da USP, a um coronel da PM.Os professores da USP não estavam em greve. A campanha salarial e a carreira docente importam aos professores porque sabemos o efeito nefasto que salários aviltados causam ao ensino, como temos visto na precarização do ensino secundário. Os mais velhos se lembram de como o ensino médio público era padrão de qualidade para a escola privada, o que hoje nos parece um sonho desaparecido. A recuperação salarial nos importa para que a Universidade pública não passe a ter salários tão baixos que os melhores profissionais prefiram se afastar dela e servir apenas à iniciativa privada, com seu principal interesse no lucro, e levando ao desaparecimento das investigações independentes que interessam ao coletivo. Lutar por salários, todos sabem, é lutar por deixar uma universidade com melhor qualidade e para que a USP tenha o que comemorar daqui a 25 anos.
Os estudantes da USP não estavam em greve. O temor relativo à Univesp, ou Universidade Virtual do Estado de São Paulo, provém da convicção de que a expansão virtual da Universidade se fará à custa da qualidade do ensino e em detrimento das políticas de permanência estudantil por que vêm lutando, da construção de salas de aula presenciais, bibliotecas, laboratórios, moradias e restaurantes universitários, temor compartilhado por alguns professores que relataram desconfianças na implantação do Programa.Todos estes são assuntos importantes para homens e mulheres que, trabalhando dentro da Universidade, abdicaram de ser meros consumidores e reprodutores de um saber para, com diversas dificuldades, se tornarem sujeitos de conhecimento, de ação e de transformação da sociedade. Requeriam, pois, que decisões dessa monta fossem tomadas com o conhecimento da ampla maioria da comunidade acadêmica, e não por decretos e resoluções. Todavia, recusando-se a negociar, a esclarecer, a Reitoria da USP teve como única resposta para a dificuldade do momento inventar uma ocupação para chamar a polícia. No dia 9 de junho os professores em assembléia, pensando em conjunto como retomar as negociações, ouviram tiros e gritos que dificilmente esqueceremos. Do prédio da Reitoria, de uma de suas janelas, umas dez cabeças assistiam ao lúgubre espetáculo de alunos e professores fugindo das bombas e sendo acuados no prédio da História. Apesar disso, e embora vários colegas tenham tentado contatos com a reitora, a fim de evitar um desfecho de proporções inimagináveis, ninguém, em momento algum, atendeu aos chamados dos docentes. Contatado, finalmente, o governador se calou: as armas já tinham falado por ele. Passado o furacão, reitoria e aliados vêm a público se manifestar e justificar atos injustificáveis.
O tecido universitário está desfeito. Todos os que defendem uma universidade pública, com direito a discussões, propostas, ações solidárias e coletivas, deixamos de reconhecer a reitora como interlocutora de nossa prática acadêmica. É verdade que, dentro e fora da Universidade, há os que aprovam a ação da polícia, alegando destruição do patrimônio público; desqualificam a decisão das assembléias em favor da greve, apelando para o direito dos que querem aula, embora não compareçam a elas; contestam os piquetes de funcionários e alunos, argumentando serem contra uma “violência generalizada”. Essas mesmas vozes recorrem a proposições vagas e metafísicas, que, descoladas de seu contexto político, ridicularizam o direito “à diferença”, “à opinião” etc.; mas se calam diante de questões materiais decisivas para a Universidade estadual, como a destruição do patrimônio público perpetrada, esta sim, pela polícia e por fundações privadas instaladas no interior da USP. Negando o direito à greve e a piquetes, propõem em seu lugar que cada um faça o que bem entender, desde que confortavelmente instalados em seus gabinetes particulares, ao abrigo do espaço coletivo e presencial de discussão. Parecem supor que a condenação das assembléias de professores e estudantes é feita ainda em favor do direito do aluno, como pagador de impostos, de ter sua mercadoria-aula. Ao sobreporem a figura do consumidor à do cidadão, transferem a cultura da universidade privada para dentro da Universidade pública, transformando os grevistas em anti-cidadãos-vendedores que não cumprem sua parte no troca-troca do mercado – como se estes não pagassem também seus impostos e não tivessem direito a forma alguma de dissidência. Certamente que, assim, esse discurso cala-se diante da destruição da Universidade pública levada a cabo por governos neoliberais e encobre sua adesão à mesma ordem de coisas, sob a capa de uma pretensa motivação pacifista. Neste sentido, a Universidade deve se envergonhar de que uma parte do seu corpo docente e discente não condene a ação policial contra atos de caráter político: pois isso significa que essa parte não se importa com o coletivo e com o tipo de conhecimento e ética que estão sendo transmitidos nessa Universidade. A sociedade deve saber disso e querer que, na Universidade de São Paulo, os professores, os médicos, os arquitetos, os atores, os engenheiros, os biólogos, os psicólogos e todos os que aí se formam, com a contribuição de todos nós, visem mais ao bem coletivo que ao seu único e próprio lucro. E fazer parte da coletividade implica ter de olhar para além do seu escritório particular, do seu consultório e da sua sala de aula.Agora a Universidade de São Paulo está em greve, exigindo a retirada imediata e definitiva da polícia no campus, para que retornem as condições de diálogo entre todos os envolvidos. Mas desde que a Universidade foi violentada com a permissão, ou pior, a mando de seus dirigentes, os professores requerem que a atual reitora se afaste do cargo e torne a ser algo de que possa se orgulhar: professora. Oxalá, assim, o próximo reitor compreenda que uma universidade não se faz virtualmente, nem com tropas militares, mas com docentes, estudantes e funcionários preocupados com o ensino e com a pesquisa, e sobretudo, com fazer parte de uma menos triste humanidade."

Carta da professora de Literatura Portuguesa da FFLCH - USP Adma Fadul

domingo, 7 de junho de 2009

Solidão

Pessoas bem legais disseram ler isso aqui...
Então, mesmo não estando em um dos meus melhores dias, arrisco a escrever. Embalada por Marcelo Camelo, meu parceiro de quase sempre, vamos ver o que sai.
O tema de hoje... combinando com meu estado de espírito, só poderia ser solidão.
Alguém já disse certa vez que solidão é estar sozinho mesmo estando entre um milhão de pessoas.
Isso quer dizer que sentimos, quase que invariavelmente, falta de uma única pessoa?
Às vezes não...
Eu não sinto falta de uma única pessoa, sinto falta de pessoas, nenhuma em particular, aliás, arrisco dizer que ainda não conheci a pessoa que fará eu me sentir sozinha no meio da multidão porque ela não está lá.
Saudade eu tenho da minha avó e da minha tia. Uma saudade doída. É um estar sem lar eterno. Certamente este é um sentimento moderno... Afinal, fomos todos expulsos de algum lugar, somos todos fragmentos vagando.
São diversos os motivos que nos levam ao isolamento.
Tchekhov dizia que quanto mais refinado um indivíduo se torna, mais infeliz ele será. Isso porque a cada dia ele estará mais sozinho. Concordo com Tchekhov.
No fundo, buscamos um Goethe. Sabe o homem inteiro?
O último que se tem notícia da existência é Goethe, então me reporto a ele. Não existem mais Goethes por aí...
Besteira querer achar um. Besteira maior ainda achar que exista um por aí... Pessoas que ignoram ser um pedacinho, uma partícula daquilo que poderiam ser, são mais felizes. Ignorar, um verbo estranho. Não saber que determinada coisa existe, e não saber evita a infelicidade.
Eu prefiro saber e sofrer.
Schiller dizia que através da arte podemos voltar a ser seres inteiros...
Eu acredito nisso e tento me cercar de sublime por todos os lados. Mas, até isso é uma forma de isolamento, sabe aquele isolamento de que falava Tchekhov?
Então, este aí é que atormenta gente que mergulha na arte...
Arte é evolução, é estar no mundo, é revolução, é mágica, é sensibilidade.
Para transitar entre os diversos mundos dá trabalho. É quase impossível entrar em um sem ainda estar carregando um pouco do outro. O sentimento de vazio que fica quando entramos naquele em que não gostaríamos de estar é torturante...
Esta conversa está muito abstrata?
Vamos para a prática.
Passar um fim de semana inteiro estudando coisas magníficas, dançar, conversar com gente que vale a pena e ter que voltar para o serviço na segunda-feira às 9 horas da manhã. Um serviço que não aproveita nem 50% de você. Um trabalho que gosta de apenas parte de você, que quer que você mande para os quintos dos infernos a porcentagem que faz de você quem você é de fato...
Isso atormenta... isola... machuca.
Sendo assim ninguém é completo no trabalho, nem na faculdade, nem no concerto, nem no teatro...
Talvez seja este o sentido de amar alguém. Uma pessoa que não precisa ser inteira, mas que faz com que você se sinta acolhido, se sinta mais inteiro do que o normal. Alguém com quem você pode ser o trabalhador, o artista, o esportista, o crítico, o cozinheiro, tudo ao mesmo tempo, ou seja, com quem você pode ser o mais perto de 100% possível. É... tomara que seja isso. Porque felicidade para mim é estar inteira...
Sendo assim, só posso concordar com Tolstói...
Talvez, felicidade só exista se for compartilhada.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Elephant Gun - Beirut

Dois acontecimentos muito importantes nesta semana...
O perfeito show do Marcelo Camelo na segunda e a minha recém-descoberta paixão por Beirut.
Essa é a música mais famosinha da banda, até porque compôs a trilha sonora da maravilhosa série Capitu, exibida pela Rede Globo.
Série perfeita, com trilha perfeita e uma pequena demonstração do que televisão deveria ser. Apenas para mostrar para gente como eu, que eles até sabem fazer uma coisa boa de fato, mas não há interesse porque gente como eu compõe 1% da população.
Enfim, ouça o álbum Gulag Orkestar que vem com o E.P. Lon Gisland de bônus. Vale muito a pena. Misto de instrumentos modernos e antigos, de nostalgia e modernidade...
Se você é como eu, tem um pezinho em um passado bem distante e outro que parece estar além do presente, vai adorar as letras sensíveis e as bem trabalhadas melodias.

Enjoy!

Elephant Gun
Beirut
Composição: Ryan Condon; Zach Condon

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight

Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night

And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is all
That I hide

sábado, 16 de maio de 2009

pés na água...


Pés na água...

brancos, grossos, descuidados

enfim, a água morna, o desgaste

um mês?

pareceu um ano

pés na água...

claros, serenos, harmoniosos.

emoliência

a luz

Bach, Debussy, Beethoven

o sol penetra

eles se mostram

vão à rua

passeiam descobertos.

Vão...

sábado, 2 de maio de 2009

Uma luz se apaga...


Não consigo pensar em nada à altura deste gênio que a humanidade perdeu hoje.

Augusto Boal nos deixou hoje, foi para outro lugar ou para lugar nenhum.

A única coisa que me vem agora é a famosa citação de Dostoiévski a respeito da arte:

Só há uma coisa que vence a vida e a morte, apenas uma coisa que é eterna, a arte.

Não me lembro se as palavras foram essas, mas foi exatamente isso que quis dizer um dos maiores escritores de todos os tempos.

Boal já é eterno há algum tempo.

Eleito embaixador mundial do teatro, indicado ao Prêmio Nobel da Paz pela sua maravilhosa criação "O teatro do oprimido", Boal acreditava que é possível criar um mundo melhor.

O dramaturgo investiu na sua crença de que todas as pessoas são capazes de atuar, trabalhou, lutou pelo seu sonho e o tornou realidade.


Hoje, excepcionalmente, escrevi duas vezes neste blog, mas é que a perda é grande demais para passar em branco.


Em um tempo em que ídolos de papel são exaltados, o mundo das artes, sobretudo do teatro, chora hoje a perda de um ídolo esculpido em granito... eterno!

Man Ray - Minotaur


Não tem sido um tempo de felicidade.

Dia após dia uma luta constante para sair da cama.

Felizmente, eu tenho um propósito, e é este que me norteia sempre.

O lugar de alegrias sempre é o mundo das artes, das adoráveis descobertas...

Um mundo de opções infinitas. Onde não há certo, nem errado. Um mundo onde não vão me magoar porque lá eu sou intocável. Lá, eu estou protegida pela liberdade.

No universo do saber, ninguém vai partir meu coração... Neste lugar, eu sou útil, tanto quanto é possível ser.

Desculpas a Adorno.

Quando falo da utilidade, estou falando da melhor utilidade que se pode dar à arte. Repassá-la aos outros. Dividir com quem não teve oportunidade de saber e, sobretudo, descobrir todo dia um mundo novo de possibilidades junto com aqueles que, assim como eu, estão dispostos, abertos a dividir aquilo que sabem.

Então a professora disse:

- Daqui dez minutos alguém de pensamento livre e sensibilidade dirá o nome desta fotografia e a qual escola ela pertence...

A resposta em pouco menos de cinco minutos:

- Essa fotografia só pode se chamar "O Minotauro", porque é um homem sem cabeça e um touro sem corpo. A metáfora mais perfeita que eu já vi do mito do Minotauro. É uma fotografia surreal.


Então, eu tive que explicar que estava vendo um touro onde ninguém mais estava...

O mais mágico é que eu vejo o touro e vejo também o tronco do homem, ambos coexistem na mesma fotografia, não há como eliminar um para ver o outro. Ao contrário da maioria das obras de arte do Surrealismo, para ver uma você não tem que deixar de ver a outra.


Assim, aconteceu minha pequena alegria...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Senhoras e senhores: Radiohead!


Este post tem que sair glorioso... rs
Era bom que saísse...

Uma pergunta.

Você conhece uma banda inglesa chamada Radiohead?

Outra pergunta

Você sabe o que é ser desajustado?

Não o desajustado interno e que usa uma máscara para ajustar-se, o desajustado que assume que não cabe, que não é e nem pode ser nada do já existente...

Talvez a única característica que une tantos desajustados... estranhos... seja justamente o não ajustar-se, mas por motivos muito diferentes.

Agora pense que você ama uma banda, que parece que canta para você. Faz hinos em homenagem a você, como se fosse uma mágica, alguém compreende tudo aquilo que se passa dentro de você.

“But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here.”

Aconteceu há uns anos atrás... Na MTV, rolava um clipe de um cara dentro de uma roupa de mergulho... A roupa ia aos poucos ficando cheia de água e um close desesperador mostrava um homem magro, branco, com dentes desalinhados, olhos desconexos, uma voz linda, inebriante, tocante. O olhar trazia um carisma, algo de doloroso que parece ter ligação direta com algo dentro de nós seres humanos. A compaixão. A troca.
Aquele homem sufocando dentro da roupa de mergulho implorava “No alarms and no surprises, please”.

Enfim, era a minha apresentação formal ao quinteto formado por Colin Charles Greenwood, Jonathan Richa Greenwood, Edward John O’Brien, Philip James Selway e Thomas Edward Yorke. O homem que se afogava era Thom Yorke.

Depois de “No Surprises”, eu iria descobrir que existia uma música que falava ainda mais diretamente comigo “Creep”, tida por muitos como uma canção óbvia demais, mas a minha preferida.

O que aconteceu no domingo, dia 22 de março de 2009, foi algo esperado por muito tempo por nós brasileiros. Finalmente, Radiohead estava no Brasil.
Às 21h45 já não dava mais para segurar a emoção, naquele palco lindo montado na minha frente, estaria, ao vivo, dentro de alguns instantes, em carne, osso e coração, a melhor banda do mundo, Radiohead.
Não é um exagero dizer que Radiohead é hoje a melhor banda do mundo, pense nos artistas que fazem sucesso hoje, pense em suas letras, pense na mensagem que querem passar. Pense nas inovações musicais. Pense em como trabalham o marketing. Após pensar em tudo isso, tente imaginar se há um álbum que seja a culminação de tudo isso como é In Rainbows. Você não vai conseguir porque não há nada melhor em nenhum quesito destes arrolados.
Radiohead é hoje a banda mais inteligente da atualidade. Produz o melhor som.
Do primeiro álbum até aqui, muita coisa mudou, a banda tem vários estilos. Aqueles que pensam que se trata de uma banda que canta em nome da tristeza, certamente conhece pouco da sua trajetória, senão, apenas “Creep”, o primeiro sucesso.

Muito bem sacado pelos organizadores do evento a apresentação dos robôs alemães, Kraftwerk... O som de todo mundo que utiliza algo de eletrônico é influenciado por eles. Eles são os pais da música eletrônica. E, é claro que o gênio Thom sabe disso...

Não posso deixar de dizer que a abertura do Los Hermanos foi uma emoção à parte para mim, fã incondicional do quarteto carioca. Foi muito bom cantar junto com a banda minhas músicas preferidas. Agradeço imensamente por cantarem “O vento”, “Último romance”, “A flor”. Naquele momento, eu fui toda voz e coração... Feliz... Feliz... Feliz...
Mas, a noite estava só começando. Após despedir-me de Amarante, Camelo, Medina e Barba, torcendo para que retornem em breve ao convívio de nós, fãs abandonados, aguardei ansiosamente pelo show do Radiohead. Foi divertido ver os robozinhos avisando “We are the robot”...
É, eu botei reparo que eles eram robôs... Não precisavam me contar não...

Escuro... desespero dos fãs... e, eis que surge com seu show tecnicamente perfeito... Radiohead...

O Thom Yorke é de um carisma inacreditável, com olhos cerrados, focados em um mundo seu, ou com dancinhas que lembram o memorável Ian Curtis, era todo sentimento...

Foi sensacional...

Para fechar com chave de ouro, aquela música que parece que foi feita só para mim, mas eu sei que foi feita para uma multidão de gente que se sente “descolada” como eu, não descolada que significa “legal”. Descolada do universo... “Creep” soou pelos alto-falantes e um palco pirotécnico acompanhava as batidas da música que, nessa noite, tenho certeza, não pareceu a ninguém óbvia.

Outro dia perguntaram para mim: Você conhece as músicas do Radiohead?
E, logo um complemento: Não toca no rádio...

É Radiohead toca pouco no rádio... Sabe por que?
Porque não é uma banda que faz músicas para a massa.
Eles fazem música para um tipo de fã especial, aquele que adora boa música e que tem QI para entender que sentimento é muito mais que cantar “I need you” para alguém.
Se você leu tudo isso que está escrito aqui e partilha da maior parte dos meus modestos “achismos”, você sabe do que eu estou falando. Não cabe a mim explicar.

Para minha querida parceira, irmã, amor da minha vida... Sorriso diário... Amor incondicional...
Obrigada por partilhar comigo deste momento tão lindo... Carregaremos a emoção deste dia para o resto das nossas vidas... Somos pessoas tão diferentes, mas ligadas não só pela carne, mas por aquele sentimento de desajustamento dito lá no início.

Somos hermanas, sempre...
Radiohead, sempre...
E, abertas a tudo... sempre...

A você que não foi... Sinto informar, perdeu o melhor show do mundo...


sábado, 14 de março de 2009

"A queda de Ícaro" de Pieter Brueghel

Musee des Beaux Arts W.H. Auden

About suffering they were never wrong,
The Old Masters: how well they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully
along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the plowman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O primeiro ano de faculdade...

Começo de ano é uma complicação, a bixarada eufórica quer fazer tudo para ontem. O professor fala: Leremos Watt para a próxima aula.
Quando ela cerra os lábios, três ou quatro malucos já estão na biblioteca e uma dúzia na xerox. Eles querem tudo para ontem.
As filas são quilométricas para tudo. A cantina fica sempre cheia. Os ônibus abarrotados de pobres coitados desesperados para ocupar os bancos tão suadamente conquistados da gloriosa Universidade de São Paulo.
As aulas magnas de todas as unidades ficam com lotação máxima. É preciso ver o ídolo de perto. Não é sempre que se pode ver e tocar (para os mais afoitos) João Adolfo Hansen, Betina Bischof, Ismail Xavier, Vanderlei Bagnato, (com sorte) Alfredo Bosi. É quase como tocar o céu por um segundo.
Acho bonito a euforia inicial... Me vejo neles... Não se trata nem do meu “eu” antes, trata-se do meu “agora”.
Eu ainda, por incrível que pareça, estou na fase do “quero mudar o mundo”. Será que vou querer até quando? Sempre me pergunto isso...
Outro dia, no filme Shortbus, ouvi uma frase incrível de umas das personagens:
- Antes eu queria mudar o mundo, agora eu só quero sair daqui com um pouco de dignidade.
Eu quero muito mais... Eu ainda quero fazer alguma coisa por este mundo aqui, deixar algo válido. Hoje, já penso que apenas apontar e perceber as coisas é alguma coisa, é mais do que a maioria consegue.
A USP fez isso por mim, me mostrou que sonhar é importante, sonhar é o que nos move na direção do alto, para o belo, o diferente, o além...
Para a bixarada, meus parabéns, desejo que a USP faça por cada novo bixo aquilo que fez por mim, mudou minha vida.
Eu vou continuar rezando pelo momento que eles vão se tocar que não precisam ser tão desesperados. Vão descobrir que a média é 5, que tem recuperação, que na USP não tem DP, afinal nós não pagamos, nós trancamos e fazemos de novo...
Não vou dizer que será fácil porque não será... Estudar na USP é matar um leão por dia. Se você imagina que passar no vestibular foi o auge das conquistas produtos de suas incríveis proezas juvenis, você descobrirá que a sua grande proeza será cumprir todos os créditos necessários para se formar. Incluindo as malditas matérias obrigatórias.
Vai descobrir que quando se estuda na USP é preciso ter uma idéia original para escrever um trabalho, que este trabalho tem que estar nas “normas da ABNT”, que você nem sabe o que é no primeiro ano.
No meu primeiro dia de aula deste ano, minha querida professora Elaine Sartorelli disse que eu sou uma estudante profissional. Alguns riram... Acham graça no fato de eu gostar tanto de estudar... Fazer o que? É a minha paixão.
Na verdade, ela me fez um grande elogio, sabe o que isso quer dizer?
Que aprender é comigo mesmo... Estou sempre aberta a aprender e sou estudante incansável. Após uma hora dentro de um ônibus lotado, num calor que 30 graus, ainda tenho ânimo para sorrir porque finalmente o ar da USP entra em meus pulmões. O cheiro do verde, do prédio antigo e a mesma velha e boa direção de pensamento. Estamos um passo à frente sempre, repudiamos o pensamento dominante.
Para vocês que passaram no vestibular e estão tão empolgados com a novidade que mal podem respirar, segue uma frase que figura nas camisetas vendidas nas lojinhas da universidade:
Estudar na FEI, R$ 1.500 mensais;
Estudar na Mackenzie, a partir de R$ 800 mensais;
Estudar na Metodista, a partir de R$ 800 mensais;
Estudar na USP, não tem preço porque tem coisas que o dinheiro não compra.
Bem-vindo!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Revolutionary Road

A realidade é esmagadora...

Aos vinte e poucos anos, nos sentimos donos do mundo. Todos conhecemos aquela maravilhosa sensação de se poder realizar qualquer coisa, uma porção de gente diz com grande orgulho: Você tem a vida toda pela frente.

E não é que tínhamos mesmo...

Mas, que tipo de vida escolheremos ter? Será que há como escolher?

Este é o mote para o magnífico filme de Sam Mendes “Foi Apenas um Sonho” ou, no original, Revolutionary Road.

O casal Wheeler se conheceu exatamente no auge da juventude, April (Kate Winslet) apaixonou-se justamente pelo vislumbre de um jovem que seria diferente de todos que ela já havia conhecido. Bastou um sorriso e a sinceridade ao dizer que não fazia idéia do que seria para o jovem Frank (Leonardo Di Caprio) conquistar aquela que se tornaria sua esposa.

Da cena do encontro, um corte para a realidade do casal alguns anos após o primeiro encontro. Instalado confortavelmente em uma casa, em um lindo vilarejo de Connecticut, o casal passa os dias contando-os vagarosamente.

No entanto, a mediocridade e o conformismo não são para todos (ainda bem!), a jovem esposa se cansa e propõe ao medíocre marido, empregado em uma fábrica de aparelhos, dos quais ele nem entende muito bem, que se mudem para Paris. Eles e os dois filhos.

Vou parar por aqui com a narração da história, se não acabarei por revelar muito do filme.

Envolvida que estou até a raiz dos cabelos com a obra do escritor e dramaturgo russo, Anton P. Tchekhov, não consigo evitar a comparação... Tchekhov estava entre nós no fim do século XIX e início do XX, não é tanto tempo assim... Mas, lá se vão cem anos, um século e uma imensidão de quilômetros nos separam do universo dele. No entanto, parece que a sua obra trata da mesma matéria que o filme de Sam Mendes, adaptação do livro de Richard Yates: Por que a realidade nos sufoca? Por que o dia-a-dia tira-nos a vontade de viver? Por que é tão difícil para alguns aceitar a mesmice?

Nossa vida é um repetir interminável de seqüências e simplesmente não nos damos conta. Enquanto escrevo isso, vem à minha cabeça vários escritores, que desesperados tentaram fugir da mesmice. Aliás, a arte é e sempre foi a tentativa máxima de escapar deste plano para outro superior, libertador...

O casal do filme se vê tragado por aquilo que é esperado, jovens se casam, têm filhos, compram um casa, vêm TV juntos, dormem juntos. Cabe à mulher acordar bem mais cedo que o marido para preparar um lindo e perfumado café da manhã para o macho provedor do lar, preparar os filhos para escola, passar o dia a arrumar a casa e a preparar a janta, espera-se dela também que esteja disposta para transar com o marido à noite...

Muita coisa nessa lenga lenga horrorosa mudou, as mulheres trabalham. Afinal, já queimaram seus sutiãs em praça pública por este direito. Parando bem para pensar, salvas as gloriosas exceções, o que mudou para mulher fora isso?

O macho continua a esperar as mesmas coisas dela. Cabe a ele apenas prover o lar, dar o dinheiro, em outras palavras. Há duas coisas que quase todos os homens fazem para provar que são homens: Comer suas esposas e às vezes algumas outras mulheres e sustentar uma casa. Isso é ser homem? Aquela figura que eu descrevi há pouco é o que é ser mulher?

Ficam as perguntas para quem queira responde-las. Mas, me apavora que as coisas continuem tão iguais tantos anos depois das primeiras denúncias de que havia algo errado.

Mestre do retrato dessa vida cansativa, Tchekhov tratou de todas as formas de repetição e da espécie de abismo que parece tragar todos nós para dentro de si.

Por que um jovem promissor torna-se o esposo barrigudo que assiste ao jogo no domingo enquanto bebe cerveja?

Como conseguir enxergar além?

O mundo capitalista, que se propõe um regime de liberdade, faz isso conosco. Quantos de nós jamais quis um emprego em que se bate o opressor e perturbador “cartão de ponto” às 9h, entrada; 13h, saída para o almoço; 14h, retorno do almoço e 18h, saída?

Há como fugir disso?

Alguns espertos “porcos capitalistas” (adoro essa expressão) dirão:

- Há sim, sendo rico, você não precisa bater cartão.

A minha resposta é: Você, caro tolinho, não bate o cartão físico, mas tem um cartão abstrato, imaginário, que é tão palpável como a bosta que eu tenho que encostar naquela maldita máquina que faz “pi” todas as manhãs.

Temos aí nome do nosso abismo então: CAPITALISMO.

É atordoante que tantos jovens promissores sejam sufocados por essa desgraça de sistema econômico.

A pergunta que todo parvo faz é: Você enxerga uma saída?

A resposta: Não... eu não enxergo uma saída, mas só o fato de eu saber, de eu notar que há algo de errado já me torna infinitamente melhor que muita gente.

Tchekhov disse simplesmente que não cabia a ele o poder de resolver as questões que propunha, cabia a ele apenas colocar o problema da maneira correta.

Infelizmente, para aqueles que não são “gado” há poucas alternativas: Pode-se viver, apesar de tudo, lutando por aquilo em que se acredita; adequar-se ao sistema, ou fugir dele...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Seres humanos!

Era uma vez um grupo de amigos...
Um dia disseram a um destes amigos que ele era capaz de coisas incríveis. Pior é que eu acho que ele meteu isso na cabeça sozinho! Ninguém disse, pobrezinho.
Então, deram a esta pessoa uma sala sem janela (uma lástima), um cubículo na verdade, uma mesa maior e um computador melhor e záz... O amigo mudou seus hábitos e por algum motivo desconhecido passou a se crer, de alguma maneira, melhor que os outros. Por causa de três coisas insignificantes? Como pode?
Como se diz a uma pessoa assim que o que define os seres humanos é o quanto ele é medíocre? Não tem como dizer... o tal nem deve saber o que é mediocridade, tamanha a sua própria.
Para quem tem medo de Deus, o certo era temer tanta mediocridade, tanta pequenez. Eu tenho medo da lei de Ação e Reação. Física!
Todas as noites, eu desejo ser menos medíocre, é só o que eu quero... tenho medo...
Tendo em vista o que disse Bakunin sobre a monstruosidade que o poder faz com as pessoas, eu me vigio...
Infelizmente, os outros amigos acabaram sendo afetados pelo amigo medíocre. A vida tem dessas coisas.Eu desejo que este amigo recupere sua humildade perdida. Talvez tenha sido apenas ilusão, pode ser que a humildade jamais tenha estado lá. Pena! Eu acreditei...