sábado, 27 de dezembro de 2008

Alegria


Parece-me, cada dia mais, que há uma falta de talento de minha parte para conviver com outros sujeitos.
Há em mim qualquer coisa que repele as pessoas, eu as atraio pelo sorriso largo, como gostam de dizer, pelo humor, muitas vezes ácido, mas apreciado por elas. No entanto, sinto que quando se aproximam de verdade de mim, de quem realmente sou, desistem de estar perto e, pior, antes que desistam, eu mesma desisto por medo que o façam antes de mim.
Há certa dificuldade por parte de todas as pessoas do mundo, creio eu, de encontrarem pessoas iguais, aquelas nas quais vêem um espelho, eu conheço alguém assim, em tudo lembra a mim mesma, exceto pela ausência de moralidade, talvez simplesmente seja dificuldade de aceitar que exista de fato uma moralidade, acho que sabe que ela existe...
Enfim, esta pessoa reflete aquilo que de mais guardado há em mim e por vezes sinto-me atraída pelo espelho, mas, uma vez refletida nele e ele refletido em mim, vai-se embora todo o encantamento. Dois repelentes feitos de matérias diferentes. Vejo nele a minha própria incapacidade de ser para alguém mais que uma confidente.
Veja bem, não se trata de incapacidade de entender o humano, eu o entendo. Ah como eu o entendo, até dói... Trata-se de impossibilidade de fazer a tão ansiada troca, aquilo pelo que buscamos todos os dias. Alguém que nos compreenda, gostaria de não ser a única a compreender.
Busco por algo que parece não existir, queria alguém que estivesse em pé de igualdade comigo. Essa afirmação soa tão pedante! Mas não é... Juro! Não é.
A igualdade, se é que existe, penso ser alguém que tenha a me oferecer algo na mesma altura que eu tenho para oferecer. Algo que não é a mesma coisa que eu ofereço é outra coisa, mas tão boa quanto e da qual eu precise desesperadamente.
Pensando na vida da escritora Jane Austen, fico me perguntando quais os motivos de tudo estar tão repugnantemente parecido com sua época... Deve restar a alguém como eu, a aceitação de que não terá uma felicidade terrestre. Será?
Nietzsche diria que é o preço que se paga por alcançar algo maior, diria que para se chegar às esferas superiores é preciso superar a necessidades das inferiores. Amores são então coisas comezinhas. Custa caro estar neste lugar!
Custa muito caro, bem venturado Nietzche! Mas, ao menos um de seus aforismos eu posso dizer que já comprovei: “O que não me mata, me fortalece!”.
É verdade...
Divagações à parte, talvez caiba a mim o mesmo quinhão que coube à Jane Austen, espero apenas que, como ela, eu toque, nem que seja com a ponta da unha, a composição do sublime.
Ao som de O Velho e o Moço (Rodrigo Amarante)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lá vem o Natal...

Montes de gente emocionada, felizes, embaladas pelo tal ‘espírito natalino’.
Eu curto o Natal, acho legal isso de todo mundo ficar bonzinho, querer ligar para a mãe que mora longe, falar com o irmão vagabundo, querer ajudar criança de farol... Acho bem legal...
O que me irrita são as compras, a gente sai na rua e está todo mundo lá: Vai um não sei o que? E um não sei que lá? O preço é especial para o natal...
Ahhh cansa né?
Eu fico cansada demais saindo na rua nestes dias. Eu vou na rua e compro umas coisas e depois, quando chego em casa, fico olhando e pensando: “Por que raios eu comprei isso?”
Eu não estava precisando de nada e estava tudo bem. O plano era comprar um pisca-pisca, um guarda-chuva bom e uma luz companheira, vulgo abajur (porque tenho medo do escuro).
Plano feito... Vamos às compras... Luz, câmera e ação: Camila, Flávia e Cristiane na rua...
O pisca-pisca eu comprei, muito bonitinho, um que chama pisca-pisca arroz; o guarda-chuva também foi comprado, mas eu não sei se é bom ou não, no fim das contas tudo que eu queria era uma coisa rosa e prata porque é lindo e é a minha cara (a perua falou mais alto dentro de mim). A luz companheira foi comprada também como o planejado... Mas, de repente, lembrei que meu creme com pó de mica (um que brilha) tinha acabado e que precisava de uma toalha bem fofinha e vermelha. Itens comprados...
Não sei bem como foi que aconteceu, sei que coloquei uma melissa no pé e ficou linda, branca, com salto bonito, tudo de que me recordo é de mim saindo da loja com a sacola na mão. Eu comprei uma melissa, a Camila comprou uma e a Cris comprou outra... Como pode? E sabe por quê?
Porque é Natal...
O que tem a ver uma coisa com a outra?
O Natal existe porque o menino Jesus, o Messias, que veio para salvar o mundo, nasceu. Ele nasceu em uma manjedoura, segundo me consta, o que tem ele a ver com o capitalismo e as compras? Eu sei muito bem como a coisa degringolou para isso, mas isso é papo para um outro post.
Eu cheguei em casa e fiquei olhando para aquele sapato, de plástico, magicamente lindo (fetiche), como se ele fosse um alienígena. Como ele foi parar ali em cima da minha cama?
Maldito seja o capitalismo que consegue envolver em sua teia até mesmo a mim que até russo falo...
O vendedor Otávio da khelf nunca vai esquecer as três irmãs que passaram pela loja dele no sábado...
Quem aí usa 36?
- Ah moço só a Cris usa 36...
- 36? Não passa nem uma das minhas pernas... Sacanagem...
36 está na promoção porque só gente de mentira usa este tamanho...
Enfim, depois de muitas risadas e uma felicidade natalina, é verdade, nós três fomos para casa cheias de comprinhas inúteis, fora o guarda-chuva e a luz companheira (senão não durmo).
Não sei como, mas záz... lá estavam: uma melissa, um guarda-chuva, duas toalhas de banho, um creme com pó de mica, um blusinha, filmes, um pisca-pisca, uma luz companheira e minha barriga lotada de comida japonesa e um sorvete que não vale o que custa...
Eia... uplá... maldito capitalismo e maldito Papai Noel.
Mas, benditas sejam as minhas irmãs que custam exatamente mil sorrisos...
Agora é tomar banho, me enrolar na toalha e ligar o pisca-pisca para esperar o Natal.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Um crime americano?

Um título sugestivo, o que define o crime é o fato dele ser americano, ou seja, um crime tipicamente americano. Será? Como boa anti-americana, tendo a concordar com esse tipo de afirmativa. No entanto, não vou acreditando assim sem saber do que se trata. Afinal, fenômenos do Mal estão por toda parte, Hitler e Mussolini não nasceram nos Estados Unidos da América.
O que levaria um ser humano a agir como Gertrude Baniszweski (Catherine Keener)?
Essa é a atormentante pergunta que o diretor se faz e nos faz fazer também, não só Gertrude Baniszweski, mas também todas aquelas crianças, não apenas seus filhos, mas também as crianças de toda a vizinhança daquele bairro. Por que torturam Sylvia Likens (Ellen Page)?
Quando perguntadas a respeito do motivo pelo qual torturavam Sylvia, a resposta era simplesmente: Não sei!
Como não sabiam? O diretor Tommy O’Haver faz questão de ressaltar bem o fato de que se trata de uma comunidade altamente religiosa, todos vão à igreja, as crianças são todas freqüentadoras da igreja do bairro e o Reverendo Bill Collier (Michael O'Keefe) participa ativamente da vida de todas essas crianças. Pior que isso, todas as pessoas do bairro sabiam o que estava acontecendo na casa de Gertrude Baniszweski. E, quando perguntados pelo motivo de não abrirem a boca sobre tamanha atrocidade, disseram apenas que não podiam “se meter” e que cada pessoa sabe daquilo que acontece dentro de sua casa.
Primeiro tratemos de Gertrude Baniszweski, ela tem sua personalidade completamente afetada pela presença da jovem Sylvia Likens, uma moça inteligente, dedicada e até bem madura para sua juventude. Enfim, tudo que Gerlie queria que sua filha Paula (Ari Graynor) fosse.
Paula é uma jovem sem nenhum fundamento moral, sua mãe tem sete filhos, sendo que o último é filho de um jovem apenas seis anos mais velho que ela mesma, o que torna a mãe uma amiga sua e não mãe. Paula se mostra com uma personalidade muito parecida com a da própria mãe, alguém promíscuo, que não vê muito bem as fronteiras entre certo e errado quando o assunto é homens.
Gerlie então começa a descontar em Sylvia toda a sua frustração com a filha Paula. Na cabeça de Gerlie, Paula é alguém perfeito, jamais faria as coisas de que a acusam. Sylvia é que a má influência, ela é quem teria levado a semente da maldade para a casa dos Baniszweski. Então, cabe à Gerlie punir Sylvia por isso.
Veja bem que não se trata da representação do Mal, não se trata de um julgamento. Gerlie é ou não má? Acho que se trata muito mais de uma mente atormentada e o diretor deixa isso bem claro, ele não está dizendo que Gertrude é a representação do Mal, ela é alguém com graves problemas, apenas humana, por mais estranho que isso possa parecer.
Passemos para a outra parte da história. Por que as crianças não ajudam Sylvia e ainda por cima sentem prazer em machucá-la ainda mais?
Eu vejo uma série de valores distorcidos, não quero parecer uma tradicionalista dizendo isso, mas, só vejo esta explicação.
Lembrei-me dos julgamentos dos “culpados” pelos crimes ocorridos durante o período nazista. De quem é a culpa pelo nazismo ter existido? Do Hitler?
Certamente a resposta envolve uma série de fatores que não envolvem a idéia de uma única pessoa, Hitler tinha um plano, um plano bem definido, que foi crescendo e se tornando possível devido a muitos motivos. O Mal, aquilo que reconhecemos como sendo o contrário total do Bem, por principalmente violar a condição humana, que é para nós seres humanos inviolável, ou deveria ser, só é possível porque encontra condições ideais para se desenvolver e propagar.
Hannah Arendt, ao criar o magnífico termo “banalidade do mal”, tinha em mente isso, o mal se tornou algo banal, há condições para ele se desenvolver em quase qualquer lugar.
O Mal está dentro de cada um de nós certamente, diria Freud, mas não o cometemos porque somos seres civilizados, aprendemos a viver em sociedade e criamos valores éticos e morais que respeitam, sobretudo, a existência do outro. Viver em sociedade é levar em consideração que sua liberdade acaba onde começa o direito do outro.
Sendo assim, retornando ao caso verídico retratado no filme, parece haver um problema de valores morais. O que leva uma criança a desrespeitar a humanidade do outro? A não reconhecer que o outro sofre dores como ele também sofre?
Uma formação defasada. Trancada dentro de suas casas, assegurando suas individualidades, a sociedade que surgiu nos anos de ouro do capitalismo fez suas próprias regras. A história se passa justamente no início da crise dos Anos de Ouro do capitalismo, assim chamados por Eric Hobsbawn, 1965. A individualidade cultivada, sobretudo pela burguesia desde a Revolução Industrial, mas levada às últimas conseqüências nos nossos tempos, construiu uma nova forma de pensar, aqueles que têm dinheiro e podem jogar o jogo do capitalismo se preservam, organizam-se em pequenos grupos que façam valer aquilo em que acreditam. No entanto, uma parcela grande da população é deixada de fora, isso no mundo inteiro, não apenas nos Estados Unidos. Essa parcela cria também suas próprias regras. Mas, note-se bem que isso não é viver em sociedade, isso é visar unicamente seu próprio bem, sua própria forma de viver. Sendo assim, acredito sim, que nos Estados Unidos haja condições mais específicas para esse tipo de horror se desenvolver.
O Mal torna-se banal à medida que o respeito ao outro se perde, as regras do jogo são outras, o outro é considerado como alguém que está no jogo ou não está.
E, para terminar, o diretor deixa a inquietante pergunta: Deus tem um plano para todos, qual era o plano dele para Sylvia Likens?
Para afirmar mais uma vez, que em uma sociedade sem valores, nem Deus se justifica.
Não é um grande filme, afinal o foco está muito mais na história contada, ou seja, vemos nitidamente que o conteúdo é valorizado em detrimento da forma, o diretor deixou a “história se contar”, baseou-se unicamente nos depoimentos registrados e colocou sua imaginação para funcionar. Se não constrói nenhuma obra de arte cinematográfica, é válido pelo mérito de refazer as inquietantes perguntas feitas por tantos outros grandes pensadores ao longo dos tempos como Machado de Assis, Dostoiévski, Tolstói e a própria Hanna Arendt, já citada. Não parece ser preocupação dos norte-americanos fazer perguntas inquietantes, mas sim manter um simulacro de felicidade, garantido pelo falso otimismo existente em quase toda a cultura de massa produzida por eles. Só por ir contra a tudo isso, o filme de Tommy O’Haver, com roteiro dele próprio e de Irene Turner, já merece ser visto.
Perfeita a atuação de Catherine Keener como a estranha Gertrude.
Antes de assistir, prepare seus sentidos acostumados com uma realidade artificialmente sob controle, tudo será “sacudido”.

Ouvindo: Saudade - Marcelo Camelo

domingo, 9 de novembro de 2008

Nem tudo está perdido...

Difícil acreditar em algumas coisas...
Foram duas semanas difíceis, algumas pessoas fazem por um curto espaço de tempo, mas conseguem fazer com que nos sintamos soterrados...
Qual o motivo? Por que se deixar abater por alguém tão infinitamente menor espiritualmente, deslumbrado, alienado...
Evito sempre dividir seres humanos em categorias, no entanto, às vezes torna-se impossível evitar, pois, eu, como ser humano ativo e pensante no mundo, tenho sim uma opinião a respeito de tudo, inclusive a respeito de pessoas. Sendo assim, eu acho que há gente melhor e pior, se considerarmos alguns pontos de vista.
Neste mundo loucamente competitivo, às vezes o poder é dado a quem não o merece de fato, me preocupa a idéia de que talvez ninguém mereça o poder. Será verdade a afirmação de Bakunin, de que qualquer pessoa quando sobe ao poder será irremediavelmente corrompida? Assombra-me essa possibilidade. Bakunin era um radical, anarquista e por isso não achava que haveria um meio-termo (vamos usar o hífen, enquanto o presidente permite). Tudo é o extremo. Eu ainda quero acreditar que nem todos tornar-se-ão víboras diante do poder.
O fato é que o poder é, muitas vezes, dado a pessoas despreparadas que não sabem o que fazer com ele, e me refiro a qualquer tipo de poder. Não é apenas o fato de ganhar mais, ter um cargo maior, não, existe também um poder nominal, um que é apenas funcional...
Mas, uma vez que um ser com um poder nominal e funcional me fez quase ir às raias da loucura... Fui salva!
A sensação que provei só pode ser entendida por aqueles que, como eu, adoram estudar e sentem um prazer quase que divino quando lêem algo realmente elevado, acima do bem e do mal, aquilo que te leva à catarse. A maravilhosa sensação de reconhecer e ter o “poder” de contemplar uma obra de arte.
Um indivíduo realmente elevado, aquele que transmite sabedoria, que além de ser genialmente brilhante é de uma simpatia boa, de uma simplicidade. Por causa de alguém como essa professora a quem me refiro, não posso crer que todos são corrompidos pelo poder, porque ela, de fato, tem um poder, um poder real, ela detém o conhecimento, a coisa mais cara no mundo, aquilo que não se compra, aquilo que não pode ser roubado. E, eu, ser pequenino diante do trajeto trilhado por essa mulher incrível, tive a felicidade de ser elogiada por ela. Não qualquer elogio, o elogio que te faz ir ao céu, que tira seus pés do chão.
O reconhecimento de um grande esforço. Ela me fez enxergar que eu também detenho conhecimento, em menor escala que o dela, mas, ainda assim o suficiente para, finalmente, entender que eu não posso me deixar abater ou soterrar por qualquer um, porque existem categorias de seres humanos e eu, definitivamente, não estou na categoria dos imbecis.
Obrigada querida Annie por me fazer entender isso...

Ao som de Inverno, de Antonio Vivaldi! Da composição As quatro estações

sábado, 20 de setembro de 2008

Para quem não achava a vovó um amor...

A alegre e brava Dona Dina tinha 77 anos...

Ela era a minha vovó querida,
A pessoa do abraço mais gostoso,
Mesmo porque era muito duro conseguir um abraço seu.
Digamos que seu abraço e seu beijo eram prêmios,
Não por bom comportamento.
Minha avó não gostava de falsidades,
Beijo e abraço só quando sentia uma emoção diferente no seu peito...
Brava... amava loucamente as pessoas... defendia com muita emoção aqueles que amava...
Muitos que foram amados por ela não sabiam disso...
Eu sei quem ela de fato amava...
Amava a Camila ternamente.
- Essa é a neta que vai cuidar de mim quando eu ficar velhinha!
Amava a Cristiane, de maneira estranha, mais amava...
- Essa menina não come, precisa ver isso Flávia, deve ser algum problema na barriga!
Amava a Gina, ah como amava.
- Você não fala mal dela. Ela é minha filha única e se vocês falarem mal dela, eu me vou Amava o Tony.
- Coitado Flávia, a gente precisa ajudar ele. Ele tem bom coração!
A brava Dona Dina chorava muito raramente,
Mas ficava muito chocada com as “maldades dessa gente moderna”.
Chorou quando a neta mais velha passou no vestibular da faculdade mais concorrida do país.
- Sempre foi inteligente minha neta, quando era pequena não queria boneca...
Chorou quando levou sua irmã querida para fazer hemodiálise.
Chorou quando a mesma irmã faleceu numa segunda-feira de carnaval.
Chorou quando uma doença estranha impediu-lhe de se movimentar coordenadamente
Ela dizia com toda força: “Eu odeio essa vizinha”
A vizinha teve câncer e ela levou-lhe comida até o dia da morte.
Velou pela coitada até o último instante...
Minha avó não sentava: Sentar para quê? Oh geração de gente cansada essa sua!
Dormir?
Só depois de meia-noite, porque antes era cedo demais.
Era muito religiosa...
A pessoa mais católica que conheci, talvez, mais que o padre!
Numa tarde de domingo, no mês de setembro, ela se foi...
Uma semana antes do seu aniversário...
Contrariando minha superstição, ela faleceu em setembro, não em agosto.
(Mas sei que começou a ficar doente em agosto!
Ninguém fica doente em setembro.)
Minha última recordação...
Antes de ficar doente, eu estava de férias.
Assistíamos aos jogos Panamericanos do Rio...
- Ai Flávia essa gente deve estar morrendo de frio dentro dessa piscina! Que coragem!
- Eu posso comer só um docinho né? Esse café com adoçante é muito ruim...
Ainda bem que eu deixei você comer o doce e tomar o café com açúcar.
Eu só queria que você nunca tivesse ficado doente...

Há quem ache que estou sofrendo pouco com a morte da minha avó...
Minha avó não morreu no dia 7 de setembro, às 17 horas.
Minha avó vinha morrendo continuamente há um ano...
Quanto ao meu sofrimento, nunca saberão o que é a minha dor...
Ela não é externa, nunca foi.

Vovó querida, até o nosso reencontro!
Você não gostava de “eu te amos”, assim à toa.
Mas esse não é à toa...
Eu te amei intensamente todos os dias da minha vida, porque ter sido criada por você e pela minha tia foi um privilégio, um presente que minha mãe me deu.

Te Amo!

domingo, 14 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Imagine que de repente, enquanto dirige, no meio do trânsito caótico, você simplesmente deixa de enxergar. Não só não enxerga, como ao contrário da cegueira tradicional, em que o indivíduo mergulha em uma escuridão, ele está dentro de um mar de leite... Tudo é claridade, não branca, mas creme...
É uma epidemia de cegueira. De repente a sociedade deixa de ser aquilo que todos conhecem por sociedade, os cegos precisam se adaptar e por isso elaboram um nova maneira de viver em conjunto. A princípio, como em qualquer caso de epidemia de doença grave, a atitude do governo é isolar os doentes para evitar o contágio. Mas, não há como conter a epidemia.
Confesso que não li o livro, por isso não tenho como analisar a obra enquanto adaptação, por isso vou encarar como se o filme existisse sozinho dissociado do livro.
A atitude de isolar os indivíduos cria uma série de problemas, uma nova sociedade é criada. Sociedade para Rousseau é um contrato social, as pessoas vivem juntas e por isso criam convenções que são adequadas para o convívio em grupo. Essas convenções funcionam bem do ponto de vista que evita que as pessoas confrontem-se o tempo todo. Leis são criadas e respeitadas por todos para um convívio harmônico. Todos nós vivemos assim, e, segundo Rousseau, isso não é bom já que tira o homem do seu ambiente natural. Para ele, muito das confusões que existiam já em sua época advêm do fato de que o homem vive de maneira artificial, a cada segundo, cada pensamento seu é podado por uma convenção e é importante respeitar aquilo que é combinado. Afinal, é para isso que foram criadas as leis, para manter todos os indivíduos no “cabresto”.
No filme, os cegos isolados têm que criar novas convenções. É interessante notar que quando se vêem em um lugar, presos, unidos por uma desgraça, a atitude de algumas pessoas é romper com o contrato social. Pois, se o Estado os aprisionou sem condições mínimas de sobrevivência, o Estado quebrou antes o contrato.
Vemos na tela uma nova sociedade em formação, não há leis pré-definidas, aquelas usadas fora da quarentena deixam de ser as leis válidas. Logo vão estabelecer um preço para as coisas e começam a se corromper.
O diretor Fernando Meirelles consegue causar no público parte da sensação sentida pelas personagens. O excesso de cenas muito claras deixa a visão completamente atrapalhada, a sensação de angústia é crescente... Medo, nojo, horror... tudo isso cresce só cresce ao longo do filme. Às vezes, temos a sensação de estarmos também perdidos, não sei se propositalmente, mas, as cenas se seguem sem nenhuma explicação, tudo simplesmente “acontece”. Apenas no final, surge uma voz “over” para dar um rumo à narrativa.
Muito legal também é a idéia dos personagens não terem nome, pois não é “o fulano” ou “o ciclano” que é capaz de fazer aquele tipo de coisa, ou com os quais acontecem aquelas coisas. Aqueles acontecimentos estão em nossas vidas todos os dias. Imagine que você assiste à TV e estão dizendo: Fulana esquarteja filhos!
Agora imagine que você não sabe o nome da fulana e que a notícia é a seguinte: Mãe esquarteja filhos! É diferente não é?
Sim, a diferença está no fato de que passa a existir a possibilidade de que qualquer mãe pode cometer uma barbárie dessas contra seus filhos, não é uma história isolada, não há justificativa, “ela era má e por isso fez isso”, não, ela fez e qualquer outra mãe poderia ter feito. Não se trata de um indivíduo isolado. Trata-se de saber por que o ser humano é capaz de fazer isso com outro, tão humano quanto ele. Por que um cego é capaz de fazer mal a outro cego que se encontra exatamente na mesma situação que ele? O que leva uma pessoa a ignorar aquilo que há de semelhante no outro? A sua humanidade.
O filme foi muito acusado de ser “pesado”, realmente o é. Mas, não acho que Meirelles tinha uma outra idéia. Não dava para fazer algo “leve”, o assunto é cegueira.
“Em terra de cego, quem tem um olho é rei.” Será? Julianne Moore tem dois, mas vocês verão que não se trata de ser rainha, e que na verdade quem tem o poder é o mais forte, o mais bem armado e, principalmente, o “Mal”. Coisas da modernidade.
A pergunta que fica quando termina a película é: Eles estão cegos, mas será que todos nós não estamos?
O que será necessário nos acontecer para que vejamos que caminhamos para um futuro sem humanidade? Onde foi parar o afeto?



segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Adeus...

Hoje, cada estrela parece uma lágrima... Ainda que esteja furtando uma frase do Renato Russo, ela define muito bem meu sentimento hoje...
As lágrimas, a dor, a saudade, a angústia estão por toda parte... Meu coração parece que vai rachar de dor... Uma dor infinita, lancinante.
Porque quando eu era pequena, ela me carregava de cavalinho porque eu era muito magrinha e não agüentava subir a ladeira...
Porque ela tirou comida da própria boca para me dar...
Porque ela me dava banho com caco de telha para que eu não ficasse encardida...
Porque ela tinha o pé mais bonitinho do mundo e nós todas saimos a ela...
São vários os motivos... tantos e impossíveis de organizar...
Mas, é simplesmente porque ela foi quem me criou, me levou na igreja, segurou minha mão nas noites difíceis, me deu uma formação sólida e acreditava em mim plenamente, incondicionalmente e sempre...
Vovó querida, que Deus guarde você no melhor lugar que ele tiver... Que as melhores instalações do paraíso estejam reservadas a você e a minha querida tia...
E apesar da tristeza, não me sinto só... Eu nunca estarei só!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O Escafandro e a Borboleta...

Confesso que jamais tinha ouvido a palavra ‘escafandro’, vestimenta impermeável e hermética, provida de um aparelho respiratório, e própria para mergulhos demorados... De fato, isso descreve bem condição quase irremediável de Jean Dominique Bauby, ou Jean-Do...
O editor da Revista Elle francesa sofreu um acidente vascular cerebral, também conhecido pela sigla AVC, aos 42 anos, enquanto mostrava seu belíssimo carro conversível ao filho. Quase tudo ficou paralisado, exceto por uma pequena parte, o olho esquerdo. Sua inteligente médica conseguiu desenvolver um método dele se comunicar assim mesmo. Um amigo observou muito bem que essa só poderia ser uma invenção francesa, pois os franceses falam tanto que deram um jeito de falar até usando um único olho...
Jean-Do escreveu o tocante livro O Escafandro e a Borboleta e é baseado neste livro que Julian Schnabel fez a sua adaptação para o cinema. Temos portanto o ponto de vista do narrador-protagonista Jean-Do.
A voz ‘over’ surge no início do filme... Mas, mais importante que a voz ‘over’ do narrador é o olhar... Um olhar embaçado, que se abre e não sabe o que aconteceu, um quarto de hospital, a tentativa desesperada de ao menos falar. Bauby permanece imóvel dentro do seu escafandro. Uma vida paralisada...
Lembrou-me demais o Mar Adentro de Alejandro Amenábar, com a diferença que Bauby queria viver, pois descobriu que mesmo com apenas um olho é possível se comunicar com os outros...
O filme é muito sensível, tocante. Aliás, este é um fenômeno moderno, necessitamos tanto de histórias inspiradoras para continuar a nossa própria. Há ainda uma outra característica essencialmente moderna, na classificação de índice de um filme (drama, aventura, comédia, romance etc.), algo atrai o público de hoje para os filmes que contam com a seguinte denominação “baseado na história verídica de fulano”. O contrato com o real é um atrativo a mais, se não absoluto para vermos o filme, lermos o livro, assistirmos a novela etc. Claro que esse aspecto está ligado ao fato de buscarmos histórias inspiradoras, talvez seja bom saber que a história é real para simplesmente sentir o prazer de ser um humano perfeito e chegar à conclusão que vivemos a procurar pêlo em ovo mesmo. Afinal se o cara tem vontade de viver e escreveu um livro incrível com apenas um olho, por que eu, com minhas duas mãos, meus dois bons olhos, não poderei escrever um livro ou fazer qualquer coisa que seja absolutamente maravilhosa?
Na verdade, talvez seja apenas a velha magia da arte só que se readaptando a um mundo cada vez mais órfão de motivos. Na arte, podemos viver uma vida que não é a nossa, ter uma vontade que não é a nossa, por isso o grande sucesso do cinema americano e seus “happys ends”, algo artificialmente construído para fazer o mundo acreditar que o padrão americano é o melhor, afinal os EUA não podem deixar de ser a terra das oportunidades. No cinema europeu, temos uma visão um pouco diferente, a tentativa de inovar, de transformar, mesmo como no caso de O Escafandro e a Borboleta, que é uma história real, um filme em uma obra de arte. Essa não é uma regra, pois nem todo o filme europeu consegue ser uma obra de arte. Mas, certamente, por uma série de questões que não cabe aqui discutir, o compromisso com a arte é outro.
O filme do diretor Julian Schnabel não só transforma o livro em um filme, mas faz mais do que isso coloca elementos próprios do cinema que tornam a história ainda mais tocante, os flash-backs do protagonista são uma contraposição dolorosa ao estado presente do personagem no filme. Os travelings (cenas em que a câmera segue o personagem em um carro, trem etc.) são a antítese do estado de Jean-Do, a que se notar aqui a boa influência do clássico Acossado do diretor Jean-Luc Godard. Entre as cenas, Jean-Do sempre é mostrado dentro de um escafandro mergulhado no mar, revelando como tudo à sua volta continua exatamente igual, a vida segue seu curso, ele é que está preso ao seu escafandro.
Um filme todo feito de duplos como o próprio nome sugere, a vida do protagonista que foi cortada ao meio; com a vida perdida ficaram a mulher amada, o glamour, o movimento; na vida que restou, ficaram a ex-esposa, os filhos, a paralisia, apareceu uma ortofonista que tornou seu livro possível. A grande questão de filmes como este sempre é o que de fato acontece com alguém que passa por este tipo de tragédia. O velho clichê não deixa de ser repetido, afinal após o acidente Jean-Do passa a ser uma nova pessoa e os acontecimentos passados tão recentemente, são agora quase que mágicos. A convivência com a família, o abraço do filho, do pai e até a ex-esposa são supervalorisados, tornam-se quase que sagrados. Mas, além da velha moral das fábulas, “Dê valor à sua vida porque você nunca sabe o dia de amanhã”, vemos que o protagonista não se amaldiçoa pelo que aconteceu e pela falta de responsabilidade com sua vida antes do acidente. Ele busca novos motivos para continuar vivendo e é deliciosamente irônico com seu estado atual, acha graça da saliva que escorre dos seus lábios inertes, fica dizendo a si mesmo que não é justo olhar as médicas bonitas sem poder fazer nada.
Ao final do filme, ficamos com a sensação que na verdade o filme é sim uma celebração da vida não uma lamuriação.
A metáfora da borboleta ganha um novo sentido.
Destaque para as incríveis atuações do protagonista Mathieu Amalric (Jean Dominique Bauby) e da coadjuvante Emmanuelle Seigner (Céline Desmoulins).

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Um dos meus lugares preferidos em São Paulo...


O que é diversão para você?

Diversão para mim, entre outras coisas, é comprar um balde de pipocas, balas e chocolate e passar a tarde neste lugar...

Porque lá tem livraria, porque bem pertinho tem o Pedaço da Pizza... A pizza mais gostosa de São Paulo. Porque lá sempre está em cartaz os filmes que eu quero assistir e que não entram no circuito comercial... o cinema alternativo é o máximo!

Porque lá tem cafeteria, lugar bom para ler e encontrar gente bacana para conversar. É fato que tem gente que vai para lá para fazer pose... Gente que finge ser uma coisa que não é, seres humanos que 'colaram' em si uma identidade e, na ânsia de serem diferentes, acabam sendo igual a todo mundo!

Não tem muita gente que topa ir lá comigo... Mas, sozinha ou acompanhada eu amo ir ao Espaço Unibanco da rua Augusta... porque a felicidade às vezes está simplesmente no: Luz, câmera, ação!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Eu amo Sex and the City!


Luz, câmera e aí vêm Carrie Bradshaw (Sarah Jéssica Parker), Samantha Jones (Kim Cattrall, a minha preferida), Charlotte York (Kristin Davis) e Miranda Hobbes (Cynthia Nixon)...
Estou devendo um comentário sobre o filme, ahhh o filme que serviu para matar a triste saudade das minhas amigas... aquelas que fazem eu me sentir muito feliz por ser solteira.
A minha predileta é mesmo a tarada Samantha Jones, mas tenho mais em comum com Miranda Hobbes do que gostaria...
Parece que foi ontem que a série acabou, mas não, passaram-se longos cinco anos sem as adoráveis garotas de Manhattan... A vida é tão mais feliz depois de assistir a um episódio de Sex and the city. O filme (que Deus seja louvado!) é tão bom quanto a série... Um episódio gigante para a gente se divertir durante quase três horas... Três vivas para quem teve essa idéia brilhante... Não consigo fazer uma crítica séria sobre esse filme... a minha euforia é grande demais. Eu adoro as quatro amigas inseparáveis, não tenho a idade delas, mas justamente me tornei adulta ouvindo os conselhos de Carrie Bradshaw, que me são muito úteis, acreditem!
O filme é sim uma celebração do dinheiro, das etiquetas, das supergrifes. Mas e daí? Quem liga para isso? Afinal, chama-se entretenimento, é para isso que serve, entreter...
Lembra da máxima do Horácio? Ensinar e deleitar.
Ao menos para mim, é disso que se trata, está certo que Hollywood se peca pelo excesso de deleite, mas beleza! E isso lá é hora de lembrar de Horácio? Só eu mesma para lembrar do Horácio a essas horas... Isso é para provar mais uma vez, que nerds também gostam de deleitar... E ainda que muitos digam o contrário, eu aprendi um monte de coisa bacana com elas sim...
Voltemos ao filme, eu acredito que foi uma das melhores idéias dos últimos tempos, não porque o mundo precisa de um monte de futilidade, mas porque seriados são bons. É uma fórmula mais inteligente que a novela, é possível ficar anos assistindo a vida passando para as personagens, os conflitos do quarteto, por exemplo, são os mesmos de qualquer mortal após os trinta anos... não importa que estejam em Manhattan, ou em São Paulo, ou em Tókio é a mesma coisa, passamos pelos mesmos problemas... Mulheres solteiras que já acumularam sabedoria demais para namorar com qualquer idiota. Claro que nem todas podemos comprar sapatos Manollo Blahnik e nem vestir um vestido de noiva Vivienne Westwood, mas mesmo assim estamos todas no mesmo barco.
Homens têm medo de mulheres inteligentes? Eu não entendo o motivo...
Só deve ter medo de mulher inteligente aqueles que não estão a altura para competir... O que infelizmente acontece na maioria dos casos. Mas, há ainda casos em que homens inteligentes preferem as burras, talvez para conseguirem se firmar todos os dias como machos superiores... What the fuck is this? Por que homens fazem isso?
O filme talvez seja uma tentativa de Michael Patrick King (dá para acreditar que um homem teve essa idéia brilhante? Claro que tudo nasceu do livro de Candance Bushnell) de mostrar que, “apesar” disso tudo, existe sim uma maneira de ser feliz. No meio dessa confusão de desencontros, há uma maneira de encontrar a felicidade e que felicidade talvez não seja um príncipe em um cavalo branco, mas uma casa no Bronx com uma família adorável... E que seres humanos não são perfeito, mas que em algum lugar há um par disponível e disposto a tornar você feliz... Há ainda uma outra opção, apaixonar-se perdidamente por você mesma e descobrir as alegrias de estar só... simplesmente só.
As meninas amadureceram muito bem, a sonhadora Carrie Bradshaw continua linda com seu cabelo maravilhoso e invejado por mulheres do mundo todo, Samantha com seus 50 anos está impecável, a mesma barriga enxuta e Charlotte, essa é um capítulo à parte, parece que não se passou nem um dia para ela... Como pode?
Eu não esqueci da Miranda... é que ela envelheceu mesmo... acho que não quis colocar botox, menina boba, ia ficar ótimo um botox naquele bigodinho chinês.
Destaque para as piadas inteligentes, o incrível humor das meninas também permanece intacto, talvez nesse quesito Miranda ganhe de longe, o humor ácido dela é simplesmente o máximo, com certeza a mais inteligente das quatro.
Samantha continua matando de rir com suas aventuras sexuais, seu namorado, Smith (Jason Lewis), continua lindo de morrer também e mostrou que, como parecia inicialmente, tem conteúdo, o rapaz não é apenas um corpinho bonito não. Não é à toa que conseguiu fisgar a relações públicas mais safada de que se tem notícia.
Um minuto de silêncio antes de falar de Mr. Big (Chris Noth)... Ah sim, ele mesmo, o lindo, charmoso, inteligente e, infelizmente, discreto Mr. Big... Muito bem no filme e, quem diria, deram um coração para ele... Sim, Big tem não só um nome, mas também um coração e até se confunde como o resto de nós mortais.
Para acrescentar ao velho time, Jennifer Hudson, que aparece não apenas como assistente da escritora mais badalada de New York, mas também na trilha sonora do filme, que conta também com uma releitura “Labels or Love”, interpretada por Fergie que não ficou boa. Talvez eu ache isso porque sou uma tradicionalista inveterada e penso que se render ao sucesso de Fergie não foi uma boa idéia.
Glamour... muito glamour...
Um filme feminino, aquelas que levaram os namorados para a sessão devem ter ouvido reclamações. Se eu tivesse um namorado, não levaria, talvez ele não ficasse feliz de me ouvir dizer que me identifico profundamente com Samantha Jones...
Steve (David Eigenberg), o marido de Miranda, continua o mesmo sincero de sempre, um amor, um cara da periferia, completamente simples, casado com a advogada brilhante de Harvard... Porque o amor derruba barreiras... Ah que lindo e brega isso!
Enfim, é isso...Viva o poder feminino!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O Espelho: um olhar para dentro...

É altamente recomendável a toda a gente entrar em contato com uma cultura estrangeira. A princípio a experiência parecerá estranha, já que temos o péssimo costume de julgar as outras culturas baseados na nossa própria, o que é um erro. Pois, a priori, não há modelo de sociedade.
Uma pergunta bastante freqüente relacionada a artistas de toda parte, e Tarkovski não é uma exceção, é: Poderia um Tarkovski, um Machado de Assis, um Glauber Rocha, um Almodovar ser reconhecido como artista fora de sua pátria? Sua arte seria entendida fora do contexto de seu país? A resposta não é fácil, afinal a resposta envolve responder a uma pergunta muito difícil: O que é a arte? Como o objetivo aqui não é responder a essa pergunta, mas sim falar do filme "O Espelho" de Andrei Tarkovski, dou a resposta que me parece mais apropriada... Costumamos reconhecer como obra de arte, aquilo que uma vez composto pelo artista, deixa de ser patrimônio dele e de sua pátria e passa a ser universal. Assim é a obra de Tarkovski, um inovador dentro ou fora da Rússia, reconhecido mundialmente como um artista.
O filme "O Espelho" ou Zerkalo (зеркало), em russo, é o sexto de Tarkóvski (1974) e para entender a obra do russo é preciso citar sua famosa definição a despeito do sentido de seus filmes: "Você olha um relógio. Ele funciona, mostra as horas. Você tenta compreender como ele funciona e o desmonta. Ele não anda mais. E no entanto essa é a única maneira de compreender..."
Em outras palavras, seus filmes são sempre a desconstrução de alguma coisa, uma vez descontruida qualquer coisa, não há como voltar atrás, aquilo que se obtém da desconstrução é sempre um objeto que foi alguma coisa e que agora é outra, isso acontece quando se extrai o sentido.
A obra de Tarkovski é tão introspectiva e subjetiva que tentando explicá-la não há como não se ver de repente dentro de um abismo de explicações herméticas e subjetivas... Sendo assim, esse pequeno preâmbulo basta, podemos falar do filme...
"O Espelho" é certamente o filme mais autobiográfico do cineasta russo. Trata-se de uma viagem de retorno às memórias de Tarkóvski. Vemos na tela sua mãe, ele mesmo, seus arrependimentos em relação à vida que viveu, a difícil convivência com o filho após a separação da esposa.
Mas, mais que um filme autobiográfico, "O Espelho" é uma viagem ao universo místico russo. A Rússia é um país extremamente místico, religioso e diversas crenças caminham junto com a dominante igreja cristã ortodoxa russa. Um país que até o século XIX poderia ser chamado de feudal e que em 1917 era socialista. Lugar que é conhecido por ser metade Oriente e metade Ocidente. Levando em conta apenas essa característica, já dá para entender a mistura que é povo russo.
"O Espelho" se inicia com a cena de uma curandeira disposta a curar um menino de sua gagueira com uma espécie de hipnose, toda a cena parece mágica. Em seguida, temos muitas cenas da própria natureza, o vento soprando através das árvores e matagal. A natureza parece responder aos estímulos do homem, funcionando como o princípio de ação e reação. A natureza é vista como algo místico, como uma espécie de deus que mantém as coisas em perfeita harmonia.
O garoto Aleksei olha para sua mãe admirado, às vezes intrigado, sente-se completamente preso à imagem da mãe... Nas reminiscências do homem, a figura mostrada é a própria mãe de Tarkovski. Os poemas de seu pai Arseni Tarkovski são lidos no fechamento das cenas, como se fossem a explicação de um ciclo que se fecha...
A água está presente em todo o filme, um elemento essencial que é mostrado como alusão ao tempo... A água escorre incessantemente, o garoto olha para ela, mas não há como detê-la, ela respeita sua natureza, a de transcorrer ainda que o homem tente impedí-la. O sonho encantado do ser humano é ter mais tempo, sempre. Desde a Grécia e Roma Antiga há relatos do homem questionando a falta de tempo...
No filme, também temos o homem contemporâneo vendo o tempo passar sem ter tempo de apreender todas as coisas. A figura do pai, do garoto e das mães de ambos se misturam. O tempo é circular, mas nunca pára...
As influências tchekhovianas estão por toda parte, a monotonia é mostrada de maneira muito forte também ligada a questão do tempo. Porque apesar do tempo ser implacável, tudo parece sempre a mesma coisa, seja para o pai, para o filho. O filme pergunta: Por que não nos damos conta de que é tudo igual sempre? Por que cometemos os mesmos erros?
A câmera se aproxima tanto do rosto da mãe, figura central do filme, que de repente não sabemos mais de quem se trata. A mesma atriz interpreta a mãe do garoto Aleksei e a esposa, o filme segue em um vai e vém de presente e passado e em vários momentos há uma confusão: Quem é essa? Claro que a confusão é proposital para reafirmar mais uma vez a monotonia da vida, o ciclo que segue com tudo se repetindo... O garoto chega a pronunciar a frase: "Eu já vivi esse mesmo momento. Já estive aqui antes." Uma frase que pode ser lida como alusão ao Espiritismo de Kardec, como também como a conclusão de Tarkovski de que afinal tudo sempre retorna... Somos outros, mas talvez o tempo seja o mesmo sempre.
O título "O Espelho" significa a mirada do próprio autor para dentro de si, uma busca de si. A tentativa de entender a si mesmo, seu lugar no mundo como ser humano e como artista.


"Este filme é sobre as mães, sobre sua vida difícil, cheia de esperanças, desgraças e felicidades. É também sobre nossa infância e sobre a angústia que ela nos deixou." Andrei Tarkovski

O Espelho (Zerkalo) - 1974
Direção: Andrei Tarkovski
Roteiro: Andrei Tarkovski e Alexandr Misham
Fotografia: Gueorgi Rerberg
Direção de arte: Nikolai Dvigubski
Música: Eduard Artemiev, J. S. Bach, H. Purcell, G. B. Pergolesi
Elenco: Margaita Terékhova, Filip Yankovski, Ignat Daniltsev, Oleg Yankovski, Yuri Nazarov
Idioma: russo
País: Rússia

sábado, 21 de junho de 2008

Once... ou Apenas uma vez...

Apenas uma vez...

Singelo é o primeiro adjetivo que vem à mente quando termina este filme...
Uma canção envolvente, tão tocante, até a academia do Oscar percebeu que se tratava de uma canção diferente... Melhor que as três do filme Encantada da Disney, que foram derrotadas por "Falling slowly", canção interpretada pelos também protagonistas do filme Glen Hansard e Markéta Irglová...
O nome do filme em inglês é "Once" que ficou aqui no Brasil, com a tradução perfeita, Apenas Uma Vez, uma única palavra em inglês que quer dizer uma sensação única, não temos essa palavra em português... para nós é uma expressão. Apenas uma vez é aquilo que só acontece uma vez na vida... Aquele momento único que jamais se repetirá.
Os dois protagonistas nem mesmo têm nomes. Uma jovem mãe tcheca (Markéta Inglová), agora morando em Dublin, encontra com um músico de rua (Glen Hansard). Ela, adoradora de música, pianista, fica atraída pelo talento do jovem músico e começa a questioná-lo sobre a possível gravação de um CD, ele, inseguro, não acredita que conseguirá chegar tão longe. Ela o convence de que é possível gravar um CD e ir lançá-lo em Londres, mas ele não acredita, ainda mais porque tem um pai que conserta aspiradores de pó, que aparece como seu único parente no filme, já velhinho, parece não acreditar no talento do filho.
A moça trata de convencer seu novo amigo a alugar um estúdio, chamam uns outros músicos de rua e passam um fim de semana todo gravando músicas para que o rapaz possa levar para Londres...
O momento auge do filme certamente é a cena dos dois na loja de instrumentos freqüentada pela moça para tocar piano, ela havia trazido um aspirador de pó para ser consertado pelo pai do rapaz e sai comicamente andando pela rua arrastando o aspirador, como se esse fosse um cão, seguem em direção à casa para que o conserto seja feito. No entanto, no meio do caminho, a moça e o rapaz conversam sobre música e ela diz que também toca. Ele duvida dela e então ela o convida para entrarem na loja de instrumentos musicais, na qual ela sempre treina... Ela toca uma composição de Mendelsshon para ele, e ele desajeitadamente pergunta a ela se a canção foi composta por ela. Ela diz que não e que trata-se de uma obra de Mendelsshon, um dos músicos mais dotados e completos da história, que ele desconhecia...
Impressionado com o talento da moça, ele ensina a melodia de uma de suas canções para que possam tocar em um dueto, ela ao piano e ele no violão. Então temos a apresentação de Falling Slowly... a canção que ajuda o espectador a compreender melhor o ambiente do filme, a história...
Como em um conto... Trata-se de contar um acontecimento único na vida de duas pessoas, um pequeno recorte. Eles se encontram e sentem-se atraídos um pelo outro... A atmosfera de romance em suspensão permeia todo o filme... A tensão que existe entre os dois é tão nítida. Os dois atores têm uma "química", faço uso do clichê por desconhecer melhor descrição para definir a ligação entre os dois... Sentimos que eles estão magicamente encantados um pelo outro, mas é um sentimento que fica na intenção... Ela se desiludiu com o pai da filha e ele com uma namorada, então ambos estão em um momento estranho na vida do ser humano, aquele momento de transição em que não se sabe muito bem o que foi e nem o que será...
O fato de se encontrarem e transformarem a vida um do outro é o "Once", aquilo que acontece apenas uma vez... Um alguém que passa, apenas um momento, um acontecimento que transforma a vida em uma outra coisa... Divide a vida em um antes e um depois. Se não tivesse conhecido a moça, teria ele acreditado no seu sonho, no seu talento? Se ela não tivesse conhecido ele, acreditaria que havia ainda muita vida dentro dela?
Apenas um momento, apenas uma pessoa, uma canção...
Um filme curtinho, 85 minutos. Muito singelo, filmado por câmeras levadas no ombro, vemos uma movimentação bem real das personagens... Um orçamento barato (US$ 150 mil). Um roteiro composto a partir de canções... O diretor e roteirista Hohn Carney encomendou a Glen Hansard, líder do The Frames, canções para que a partir delas escrevesse um roteiro. Dez canções inéditas e um pequeno roteiro nasceram dos encontros entre o diretor (que também já participou do The Frames) e o músico.
E o que vemos na tela é exatamente isso, um filme simples, feito a partir de uma idéia simples. Atuações que imitam o cotidiano, diálogos bem construídos, aparentemente simples também, mas daí não acredito na simplicidade dos diálogos, eles são inteligentes e cheios de idéias implícitas, neles e nas canções estão o encanto do filme..."Once", um filme irlandês, chegou ao Oscar, penso que talvez seja justamente por provar que é possível, tendo uma boa idéia, construir uma obra de arte. A simplicidade, em tempos de tanta sofisticação, chama a atenção, ainda mais em Hollywood, templo de consagração ao requinte e ao dinheiro. Este texto foi todo escrito ao som de Falling Slowly, repetidas vezes... Falling slowly sing your melody. I'll sing along. (Cante sua melodia. Eu cantarei junto com você).

domingo, 8 de junho de 2008

O Bem...

Essa é para quem me conhece...
Pode alguém pensar que eu sou uma bruxa pronta para roubar o namorado alheio?
Às vezes eu faço coisas de sarapamtar o espírito de qualquer um...
Umas atitudes que nem eu sei quais são os motivos...
Mas, eu faço!
Tenho mania de querer que todos estejam bem...
Sou capaz de beijar o rosto daquele que mais me detesta...
Afinal, tascar um beijo nos amigos é fácil... difícil é acarinhar o inimigo...
Mas, eu acarinho.
Porque acredito. Acredito que o bem muda alguma coisa!
Você já parou para pensar se o bem que fazemos muda alguma coisa, num mundo com tanta gente, tanta coisa acontecendo... Pode uma única atitude minha fazer a diferença?
Eu acredito de verdade que pode... Talvez, não se pensarmos no coletivo... Mas, pergunte a qualquer um que foi ajudado se para ele aquele pequeno gesto não fez a diferença...
Muitos sentem raiva, vontade de me esbofetear pelo meu jeito, há até aqueles que julgam que tudo não passa de falsidade...
Não faço nada para provar para ninguém nada... Apenas para me sentir bem. Afinal, ninguém jamais perdeu o sono por perdoar alguém ou por estender a mão a quem necessita...
Eu penso assim, eu sou assim... Lembra do "Fazer o bem sem olhar a quem?"
Não se trata de hipocrisia... Sempre me questionam: Mas porque você fez isso? Eu não sei a resposta... Eu não busco os motivos... Eu não quero saber...
Acredito sim que o amor deve ser a única coisa que deve guiar o nosso viver... Que só o amor transforma.
Ingênua?
Eu não sou ingênua, já passei por coisas que quase ninguém sabe o quanto foram difíceis...
Mas, nada disso me tornou um ser humano duro. Ainda bem!
A cada tropeço eu me torno mais humana... A minha humanidade é a melhor coisa em mim...
É a melhor porque tenho certeza que é eterna... Eu tenho um monte de defeitos que nem todo mundo, mas me deixem fazer aquilo em que sou boa... Talvez eu seja sim como Aliócha Karamázov... "Não era rancoroso. Uma hora após ter sido ofendido, respondia ao ofensor ou dirigia-lhe ele próprio a palavra, com um ar confiante, tranquilo, como se nada se tivesse passado entre eles. Não parecia então ter esquecido a ofensa, ou decidido perdoá-la, mas não se considerava ofendido" (...)
E não é que essa descrição parece eu mesmo... rs. Mas, eu não quero mudar...
Eu quero ser exatamente como sou.
Portanto, não me questionem!
Eu não sei o motivo...
Só sei que vou continuar espalhando a paz e o amor por onde quer que eu vá...
E para você que leu isso... Muito amor e bem!
Porque Deus está aqui e a Sua paz desce sobre mim...
Amém!
(Parece bobeira... mas deveria existir um monte de Lucas Eugene Scott andando por aí... o mundo seria tão melhor)

domingo, 1 de junho de 2008

Parada Gay 2008: "Homofobia mata - por um Estado laico de fato"



Evito entrar no mérito da questão da luta por um Estado laico de fato. Afinal, sabemos que o Brasil não é um país laico de fato mesmo. Somos o país mais católico do mundo, é só lembrar da cena de Fernando Henrique Cardoso rezando o Pai Nosso, ele absolutamente não sabia a oração, no entanto, precisou fingir, correndo risco sério de ser vaiado e sabe se lá mais o que se não cumprisse os protocolos do país mais católico do mundo... Já falei de mais a respeito disso, essa conversa dá muito pano para manga... Porque, no fim das contas, sabemos que quem ora muito é quem mais precisa...
Mas, voltemos à Parada Gay, sensacional!
Se foram 3,5 milhões ou 5 milhões de pessoas, não importa.
Li as notícias no outro dia e cada mídia destacou um aspecto da parada deste ano. Uma dizia que a parada foi mais "contida", com menos paetês. Outra dava conta dos furtos e das confusões que ocorreram durante a parada...
Eu que estava lá e dancei por toda a Avenida Paulista e Rua da Consolação com minha irmã Camila, nosso amigo Allan (o gay mais legal de que se tem notícia) e um monte de amigos, posso dizer que a Parada GLBT foi muito boa, organizada e acima de tudo um movimento de alegria e de paz... Eu não sou gay, mas sou absolutamente simpatizante desde sempre. Sempre tive amigos gays e posso dizer que eles são pessoas inteligentes, inconformadas constantemente e por isso sempre estão envolvidos em movimentos e grandes causas. Gente incrível que conheço é gay e não pode "sair do armário" porque perderiam a credibilidade que têm. E sabem disso.
A Parada é isso, um monte de gente linda, feliz, inteligente tem a chance de andar na rua se mostrando como realmente é por um dia ao menos... Neste ano, foi toda uma semana voltada para os gays aqui em São Paulo...
Quanto aos veículos que divulgaram os furtos e desentendimentos como sendo acontecimentos próprios da Parada Gay, talvez na tentativa de dizer que o movimento não é sério... Tenha a santa paciência! Que hipocrisia! Diga em que manifestação do mundo não há brigas e furtos? Ainda mais quando se trata de uma multidão de 3,5 milhões de pessoas. Só para se ter idéia do quanto é isso, 5 milhões de pessoas é 25% de São Paulo.
Seria bom se não fosse assim, mas vivemos, infelizmente, em um mundo violento. Não é a Parada que é violenta...
Agora, a notícia de que o movimento foi mais contido. As pessoas, em geral, e principalmente as menos instruídas têm uma tendência péssima a achar que todo gay é uma espécie de palhaço... Não é isso, gays são pessoas normais, só não são heteros. Eles não andam por aí vestidos com roupas cheias de lantejoulas ou cobertos de glitter... Isso é besteira. Conheço gays que são médicos, dentistas, economistas, filósofos, lingüístas... Enfim, pessoas normais... O aspecto divertido fica a cargo daqueles gays que gostam de diversão e brincam com a fantasia existente no imaginário popular.
Me diverti como há muito tempo não me divertia... Ri muito, dancei até não agüentar mais com as minhas pernas e pés... Muita música eletrônica, black e até Bossa Nova!
A tarde do dia 25 de maio ficará guardada para mim como o dia em que, depois de muito tempo, pude sair com a minha irmã mais nova e descobrir o quanto é divertido... O quanto sou livre para gostar de quem quiser. Não tenho mais um namorado ciumento e homofóbico... Estou muito feliz por isso...
Viva a liberdade, o amor, a paz e o bem...
Eu também quero um Estado laico de fato!Só para não esquecer: Todo o preconceito é burro! Sempre!
Agora vou indo... hoje tem concerto!
Viva Mozart e a Flauta Mágica...

domingo, 18 de maio de 2008

Falling Slowly (Glen Hansard and Marketa Irglova)

I don't know you
But I want you
All the more for that
Words fall through me
And always fool me
And I can't react
And games that never amount
To more than they're meant
Will play themselves out

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you have a choice
You've made it now

Falling slowly, eyes that know me
And I can't go back
Moods that take me and erase me
And I'm painted black
You have suffered enough
And warred with yourself
It's time that you won

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you had a choice
You've made it now

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you had a choice
You've made it now
Falling slowly sing your melody
I'll sing along

(Filme gracinha... Singelo, como nada é ultimamente...)

A estrofe seguinte é para alguém...
Apesar de você
Amanhã há de ser Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Ah... Chico Buarque... sempre tem uma estrofe de acordo com o estado de todos nós!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

время





Pode alguém ficar euforicamente feliz com um Congresso de Literatura?
Sim, pode.
Talvez eu seja estranha demais, eu gosto de coisa demais, acredito em coisa demais. Considero tudo! Para mim, a fronteira entre certo e errado é uma coisa tão tênue e sempre pode haver um "se". Hoje estou estupidamente confusa.
Há gente, muita gente mesmo, que me acha estranha... estou em crise!
Eu não lido bem com sentimentos, prefiro evitá-los, é mais fácil. Mas, há dias em que todos eles vêm à tona e me sufocam...
Desejo uma infinidade de coisas e penso sempre que não dará tempo, não há tempo para fazer tudo aquilo que eu gostaria... Minha música predileta diz que é preciso ter paciência... Eu não sou paciente... Muitos me julgam uma pessoa paciente... é mentira...
Quero tudo para ontem, anseio por coisas que não vou conseguir fazer... corro desesperadamente atrás do ponteiro do relógio, quero mais tempo... preciso de mais tempo!
Eia uplá... Vrummmmmmm
Vivemos em um tempo em que a máquina, o dinheiro e coisas estranhas são celebradas. "É como se a gente não soubesse pra que lado foi a vida. Por que tanta solidão?"
Faço a mesma pergunta que, nos idos do século XVIII, Daniel Defoe fez, que Fernando Pessoa se fez e que todo mundo que pensa acaba fazendo um dia. Como apreender tantas coisas que surgem a cada segundo? Eu só queria que tudo fosse mais lento, queria mais tempo para ligar para uma madrinha com quem não consigo falar, mais tempo para enxergar a beleza das horas contadas com conta-gotas, mais tempo para sentar embaixo de uma árvore que eu adoro lá da faculdade e ler bem devargazinho autores que não faziam idéia que o mundo viraria isso! Horácio, Platão, Padre Antonio Vieira, Virgílio, Homero etc.
Há dias em que é muito difícil andar despedaçada por aí...
Queria por um dia viver na unidade da epopéia...
Sêneca dizia que o segredo da felicidade é ser feliz hoje e que o indivíduo que vive o hoje esperando o amanhã não é feliz nunca, nem hoje, nem amanhã, nem em parte alguma...
O ser humano na época dele só queria um pouco mais de tempo... tempo para viver... Em pensar que tanto tempo depois, eu estou aqui sentada escrevendo sobre a falta de tempo para fazer coisas que façam minha alma se sentir mais inteira... preciso tanto dos meus momentos de fuga... preciso tanto me encontrar... Sêneca nem podia imaginar como a questão do tempo se tornaria cada vez mais uma questão essencial para o ser humano, que nem mesmo tem tempo para pensar sobre si mesmo...
Sêneca também dizia que o ser humano tem mania de pensar que tem muito tempo... Ele insistia sempre na idéia de viver o hoje... Sêneca sabia das coisas... eu, que quero ler toda a sua obra até o fim do ano, não sei de nada...
Os tempos exigem de mim uma correria que não é minha... Sinto-me atrapalhada, inútil, esmagada... ando no meio do rodamoinho, tento chegar a algum lugar... O rodamoinho levou consigo muita coisa que eu amava... mas, não conseguiu levar aquilo que faz de mim o que sou... a esperança, a perseverança... Em nome de dois seres que salvaram a minha vida, eu não desisto porque houve um tempo em que eu chegava em casa e lá estavam dois sorrisos que ansiavam pela minha simples aparição.
São tempos difíceis estes e por hoje já basta...

sábado, 10 de maio de 2008

Into the Wild ou Na Natureza Selvagem...

Já aconteceu de você sair do cinema com naúsea? De repente, me senti saindo do meio de um turbilhão... Tontura, enjôo, naúsea, tristeza, alegria e... Os créditos apareceram, sensação de vazio, confusão e... A luz do Conjunto Nacional...
Um filme longo, mas nada monótono, extremamente intenso... Chorei, sorri, gargalhei, me questionei e voltei a chorar...
Um filme de celebração à vida. Uma delícia participar da vida do jovem Chrstopher MacCandless ou Alexander Supertramp, um pseudônimo incrível (Emile Hirsch). A câmera que vai e vem e focaliza os sorrisos, o pescoço, a pele, de repente estamos juntos de Chris... Quase deu para sentir o vento no rosto, o respingo de água gelada.
A fotografia impressionante de Eric Gautier ajuda a contar a história do jovem que cansou da vida fácil de filho de pai rico (um clichê).
Com produção e direção de Sean Penn, que esperou por dez anos para rodar a história real do jovem que abandonou uma carreira promissora para sair em busca de si mesmo. Até aí trata-se de um clichê... Mas, não se engane... Chris não foi um clichê, ele era um jovem diferente, sabia que havia algo de errado com a sociedade, sabia que havia e há algo de errado com o mundo. Chris foge ou procura algo?
Para mim, Chris estava em busca de uma verdade maior, buscava um sentimento verdadeiro livre de imposições e hipocrisias... Sabia que seus pais o amavam, mas sabia que esse amor, ao contrário do que dizem, tinha condições: ser um bom filho, bom aluno, bom profissional, seguir normas criadas por pessoas que não as seguiram e por isso as inventaram.
Chris queria mais, buscava a likberdade que leu em autores como Pasternack, Thoreau, Tolstói... uma liberdade que ele só conhecia dos livros... Chris foi em busca do seu "eu" verdadeiro, saiu em busca de reconstituir o seu "eu" fragmentado. Um retorno ao Todo Poderoso, à própria natureza ou chamem do que quiser... Simplesmente o retorno para algo que existe antes da sociedade e que foi chamado de "natureza selvagem". Quis se sentir inteiro e livre. E inventou para si mesmo que encontraria todas as verdades que buscava fazendo uma longa viagem que terminaria no Alasca... sozinho, sem dinheiro, sem comida... vivendo como seus ancestrais, pré-civilização...
Um filme que traz à tona a eterna questões do homem moderno: Quem sou eu no meio dessa multidão? Estou abandonado à minha própria sorte? Há algum lugar onde eu possa me sentir inteiro ou parte de algo?
Chris tentou responder a essas questões... Para ele foi necessário trilhar os caminhos mais difíceis para descobrir, longe de todos aqueles que o amavam, que a "felicidade só existe se poder ser compartilhada". E foi assim: no distante Alasca, que ele descobriu que poderia se sentir inteiro e acolhido perto das pessoas que amava...
O filme é cheio de cenas inesquecíveis, mas não consigo deixar de citar aquela que tem participação de Hal Holbrook. Durante toda a sua viagem, Chris ensina algo de especial, sem saber, às pessoas com que tem contato, transformando suas vidas e sendo transformado por elas. Mas, para o velho Ron Franz, ele consegue mostrar que sempre há motivos para viver... A cena é boa devido à interpretação, portanto não há como contar, apenas pontuar que ela existe...
A trilha sonora de Eddie Vedder também é sensacional, ajuda a compor o ambiente de liberdade e muitas vezes ajuda a conduzir o filme, ajudando o roteiro que às vezes parece meio interpolado.
É, valeu a pena esperar dez anos! Sean Penn conseguiu surpreender positivamente mais uma vez... Chris é um Robinson Crusoé moderno!
Foi verdadeiramente muito bom estar no "ônibus mágico"...