sábado, 20 de setembro de 2008

Para quem não achava a vovó um amor...

A alegre e brava Dona Dina tinha 77 anos...

Ela era a minha vovó querida,
A pessoa do abraço mais gostoso,
Mesmo porque era muito duro conseguir um abraço seu.
Digamos que seu abraço e seu beijo eram prêmios,
Não por bom comportamento.
Minha avó não gostava de falsidades,
Beijo e abraço só quando sentia uma emoção diferente no seu peito...
Brava... amava loucamente as pessoas... defendia com muita emoção aqueles que amava...
Muitos que foram amados por ela não sabiam disso...
Eu sei quem ela de fato amava...
Amava a Camila ternamente.
- Essa é a neta que vai cuidar de mim quando eu ficar velhinha!
Amava a Cristiane, de maneira estranha, mais amava...
- Essa menina não come, precisa ver isso Flávia, deve ser algum problema na barriga!
Amava a Gina, ah como amava.
- Você não fala mal dela. Ela é minha filha única e se vocês falarem mal dela, eu me vou Amava o Tony.
- Coitado Flávia, a gente precisa ajudar ele. Ele tem bom coração!
A brava Dona Dina chorava muito raramente,
Mas ficava muito chocada com as “maldades dessa gente moderna”.
Chorou quando a neta mais velha passou no vestibular da faculdade mais concorrida do país.
- Sempre foi inteligente minha neta, quando era pequena não queria boneca...
Chorou quando levou sua irmã querida para fazer hemodiálise.
Chorou quando a mesma irmã faleceu numa segunda-feira de carnaval.
Chorou quando uma doença estranha impediu-lhe de se movimentar coordenadamente
Ela dizia com toda força: “Eu odeio essa vizinha”
A vizinha teve câncer e ela levou-lhe comida até o dia da morte.
Velou pela coitada até o último instante...
Minha avó não sentava: Sentar para quê? Oh geração de gente cansada essa sua!
Dormir?
Só depois de meia-noite, porque antes era cedo demais.
Era muito religiosa...
A pessoa mais católica que conheci, talvez, mais que o padre!
Numa tarde de domingo, no mês de setembro, ela se foi...
Uma semana antes do seu aniversário...
Contrariando minha superstição, ela faleceu em setembro, não em agosto.
(Mas sei que começou a ficar doente em agosto!
Ninguém fica doente em setembro.)
Minha última recordação...
Antes de ficar doente, eu estava de férias.
Assistíamos aos jogos Panamericanos do Rio...
- Ai Flávia essa gente deve estar morrendo de frio dentro dessa piscina! Que coragem!
- Eu posso comer só um docinho né? Esse café com adoçante é muito ruim...
Ainda bem que eu deixei você comer o doce e tomar o café com açúcar.
Eu só queria que você nunca tivesse ficado doente...

Há quem ache que estou sofrendo pouco com a morte da minha avó...
Minha avó não morreu no dia 7 de setembro, às 17 horas.
Minha avó vinha morrendo continuamente há um ano...
Quanto ao meu sofrimento, nunca saberão o que é a minha dor...
Ela não é externa, nunca foi.

Vovó querida, até o nosso reencontro!
Você não gostava de “eu te amos”, assim à toa.
Mas esse não é à toa...
Eu te amei intensamente todos os dias da minha vida, porque ter sido criada por você e pela minha tia foi um privilégio, um presente que minha mãe me deu.

Te Amo!

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