A alegre e brava Dona Dina tinha 77 anos...
Ela era a minha vovó querida,
A pessoa do abraço mais gostoso,
Mesmo porque era muito duro conseguir um abraço seu.
Digamos que seu abraço e seu beijo eram prêmios,
Não por bom comportamento.
Minha avó não gostava de falsidades,
Beijo e abraço só quando sentia uma emoção diferente no seu peito...
Brava... amava loucamente as pessoas... defendia com muita emoção aqueles que amava...
Muitos que foram amados por ela não sabiam disso...
Eu sei quem ela de fato amava...
Amava a Camila ternamente.
- Essa é a neta que vai cuidar de mim quando eu ficar velhinha!
Amava a Cristiane, de maneira estranha, mais amava...
- Essa menina não come, precisa ver isso Flávia, deve ser algum problema na barriga!
Amava a Gina, ah como amava.
- Você não fala mal dela. Ela é minha filha única e se vocês falarem mal dela, eu me vou Amava o Tony.
- Coitado Flávia, a gente precisa ajudar ele. Ele tem bom coração!
A brava Dona Dina chorava muito raramente,
Mas ficava muito chocada com as “maldades dessa gente moderna”.
Chorou quando a neta mais velha passou no vestibular da faculdade mais concorrida do país.
- Sempre foi inteligente minha neta, quando era pequena não queria boneca...
Chorou quando levou sua irmã querida para fazer hemodiálise.
Chorou quando a mesma irmã faleceu numa segunda-feira de carnaval.
Chorou quando uma doença estranha impediu-lhe de se movimentar coordenadamente
Ela dizia com toda força: “Eu odeio essa vizinha”
A vizinha teve câncer e ela levou-lhe comida até o dia da morte.
Velou pela coitada até o último instante...
Minha avó não sentava: Sentar para quê? Oh geração de gente cansada essa sua!
Dormir?
Só depois de meia-noite, porque antes era cedo demais.
Era muito religiosa...
A pessoa mais católica que conheci, talvez, mais que o padre!
Numa tarde de domingo, no mês de setembro, ela se foi...
Uma semana antes do seu aniversário...
Contrariando minha superstição, ela faleceu em setembro, não em agosto.
(Mas sei que começou a ficar doente em agosto!
Ninguém fica doente em setembro.)
Minha última recordação...
Antes de ficar doente, eu estava de férias.
Assistíamos aos jogos Panamericanos do Rio...
- Ai Flávia essa gente deve estar morrendo de frio dentro dessa piscina! Que coragem!
- Eu posso comer só um docinho né? Esse café com adoçante é muito ruim...
Ainda bem que eu deixei você comer o doce e tomar o café com açúcar.
Eu só queria que você nunca tivesse ficado doente...
Há quem ache que estou sofrendo pouco com a morte da minha avó...
Minha avó não morreu no dia 7 de setembro, às 17 horas.
Minha avó vinha morrendo continuamente há um ano...
Quanto ao meu sofrimento, nunca saberão o que é a minha dor...
Ela não é externa, nunca foi.
Vovó querida, até o nosso reencontro!
Você não gostava de “eu te amos”, assim à toa.
Mas esse não é à toa...
Eu te amei intensamente todos os dias da minha vida, porque ter sido criada por você e pela minha tia foi um privilégio, um presente que minha mãe me deu.
Te Amo!
sábado, 20 de setembro de 2008
domingo, 14 de setembro de 2008
Ensaio Sobre a Cegueira
Imagine que de repente, enquanto dirige, no meio do trânsito caótico, você simplesmente deixa de enxergar. Não só não enxerga, como ao contrário da cegueira tradicional, em que o indivíduo mergulha em uma escuridão, ele está dentro de um mar de leite... Tudo é claridade, não branca, mas creme...
É uma epidemia de cegueira. De repente a sociedade deixa de ser aquilo que todos conhecem por sociedade, os cegos precisam se adaptar e por isso elaboram um nova maneira de viver em conjunto. A princípio, como em qualquer caso de epidemia de doença grave, a atitude do governo é isolar os doentes para evitar o contágio. Mas, não há como conter a epidemia.
Confesso que não li o livro, por isso não tenho como analisar a obra enquanto adaptação, por isso vou encarar como se o filme existisse sozinho dissociado do livro.
A atitude de isolar os indivíduos cria uma série de problemas, uma nova sociedade é criada. Sociedade para Rousseau é um contrato social, as pessoas vivem juntas e por isso criam convenções que são adequadas para o convívio em grupo. Essas convenções funcionam bem do ponto de vista que evita que as pessoas confrontem-se o tempo todo. Leis são criadas e respeitadas por todos para um convívio harmônico. Todos nós vivemos assim, e, segundo Rousseau, isso não é bom já que tira o homem do seu ambiente natural. Para ele, muito das confusões que existiam já em sua época advêm do fato de que o homem vive de maneira artificial, a cada segundo, cada pensamento seu é podado por uma convenção e é importante respeitar aquilo que é combinado. Afinal, é para isso que foram criadas as leis, para manter todos os indivíduos no “cabresto”.
No filme, os cegos isolados têm que criar novas convenções. É interessante notar que quando se vêem em um lugar, presos, unidos por uma desgraça, a atitude de algumas pessoas é romper com o contrato social. Pois, se o Estado os aprisionou sem condições mínimas de sobrevivência, o Estado quebrou antes o contrato.
Vemos na tela uma nova sociedade em formação, não há leis pré-definidas, aquelas usadas fora da quarentena deixam de ser as leis válidas. Logo vão estabelecer um preço para as coisas e começam a se corromper.
O diretor Fernando Meirelles consegue causar no público parte da sensação sentida pelas personagens. O excesso de cenas muito claras deixa a visão completamente atrapalhada, a sensação de angústia é crescente... Medo, nojo, horror... tudo isso cresce só cresce ao longo do filme. Às vezes, temos a sensação de estarmos também perdidos, não sei se propositalmente, mas, as cenas se seguem sem nenhuma explicação, tudo simplesmente “acontece”. Apenas no final, surge uma voz “over” para dar um rumo à narrativa.
Muito legal também é a idéia dos personagens não terem nome, pois não é “o fulano” ou “o ciclano” que é capaz de fazer aquele tipo de coisa, ou com os quais acontecem aquelas coisas. Aqueles acontecimentos estão em nossas vidas todos os dias. Imagine que você assiste à TV e estão dizendo: Fulana esquarteja filhos!
Agora imagine que você não sabe o nome da fulana e que a notícia é a seguinte: Mãe esquarteja filhos! É diferente não é?
Sim, a diferença está no fato de que passa a existir a possibilidade de que qualquer mãe pode cometer uma barbárie dessas contra seus filhos, não é uma história isolada, não há justificativa, “ela era má e por isso fez isso”, não, ela fez e qualquer outra mãe poderia ter feito. Não se trata de um indivíduo isolado. Trata-se de saber por que o ser humano é capaz de fazer isso com outro, tão humano quanto ele. Por que um cego é capaz de fazer mal a outro cego que se encontra exatamente na mesma situação que ele? O que leva uma pessoa a ignorar aquilo que há de semelhante no outro? A sua humanidade.
O filme foi muito acusado de ser “pesado”, realmente o é. Mas, não acho que Meirelles tinha uma outra idéia. Não dava para fazer algo “leve”, o assunto é cegueira.
“Em terra de cego, quem tem um olho é rei.” Será? Julianne Moore tem dois, mas vocês verão que não se trata de ser rainha, e que na verdade quem tem o poder é o mais forte, o mais bem armado e, principalmente, o “Mal”. Coisas da modernidade.
A pergunta que fica quando termina a película é: Eles estão cegos, mas será que todos nós não estamos?
O que será necessário nos acontecer para que vejamos que caminhamos para um futuro sem humanidade? Onde foi parar o afeto?
É uma epidemia de cegueira. De repente a sociedade deixa de ser aquilo que todos conhecem por sociedade, os cegos precisam se adaptar e por isso elaboram um nova maneira de viver em conjunto. A princípio, como em qualquer caso de epidemia de doença grave, a atitude do governo é isolar os doentes para evitar o contágio. Mas, não há como conter a epidemia.
Confesso que não li o livro, por isso não tenho como analisar a obra enquanto adaptação, por isso vou encarar como se o filme existisse sozinho dissociado do livro.
A atitude de isolar os indivíduos cria uma série de problemas, uma nova sociedade é criada. Sociedade para Rousseau é um contrato social, as pessoas vivem juntas e por isso criam convenções que são adequadas para o convívio em grupo. Essas convenções funcionam bem do ponto de vista que evita que as pessoas confrontem-se o tempo todo. Leis são criadas e respeitadas por todos para um convívio harmônico. Todos nós vivemos assim, e, segundo Rousseau, isso não é bom já que tira o homem do seu ambiente natural. Para ele, muito das confusões que existiam já em sua época advêm do fato de que o homem vive de maneira artificial, a cada segundo, cada pensamento seu é podado por uma convenção e é importante respeitar aquilo que é combinado. Afinal, é para isso que foram criadas as leis, para manter todos os indivíduos no “cabresto”.
No filme, os cegos isolados têm que criar novas convenções. É interessante notar que quando se vêem em um lugar, presos, unidos por uma desgraça, a atitude de algumas pessoas é romper com o contrato social. Pois, se o Estado os aprisionou sem condições mínimas de sobrevivência, o Estado quebrou antes o contrato.
Vemos na tela uma nova sociedade em formação, não há leis pré-definidas, aquelas usadas fora da quarentena deixam de ser as leis válidas. Logo vão estabelecer um preço para as coisas e começam a se corromper.
O diretor Fernando Meirelles consegue causar no público parte da sensação sentida pelas personagens. O excesso de cenas muito claras deixa a visão completamente atrapalhada, a sensação de angústia é crescente... Medo, nojo, horror... tudo isso cresce só cresce ao longo do filme. Às vezes, temos a sensação de estarmos também perdidos, não sei se propositalmente, mas, as cenas se seguem sem nenhuma explicação, tudo simplesmente “acontece”. Apenas no final, surge uma voz “over” para dar um rumo à narrativa.
Muito legal também é a idéia dos personagens não terem nome, pois não é “o fulano” ou “o ciclano” que é capaz de fazer aquele tipo de coisa, ou com os quais acontecem aquelas coisas. Aqueles acontecimentos estão em nossas vidas todos os dias. Imagine que você assiste à TV e estão dizendo: Fulana esquarteja filhos!
Agora imagine que você não sabe o nome da fulana e que a notícia é a seguinte: Mãe esquarteja filhos! É diferente não é?
Sim, a diferença está no fato de que passa a existir a possibilidade de que qualquer mãe pode cometer uma barbárie dessas contra seus filhos, não é uma história isolada, não há justificativa, “ela era má e por isso fez isso”, não, ela fez e qualquer outra mãe poderia ter feito. Não se trata de um indivíduo isolado. Trata-se de saber por que o ser humano é capaz de fazer isso com outro, tão humano quanto ele. Por que um cego é capaz de fazer mal a outro cego que se encontra exatamente na mesma situação que ele? O que leva uma pessoa a ignorar aquilo que há de semelhante no outro? A sua humanidade.
O filme foi muito acusado de ser “pesado”, realmente o é. Mas, não acho que Meirelles tinha uma outra idéia. Não dava para fazer algo “leve”, o assunto é cegueira.
“Em terra de cego, quem tem um olho é rei.” Será? Julianne Moore tem dois, mas vocês verão que não se trata de ser rainha, e que na verdade quem tem o poder é o mais forte, o mais bem armado e, principalmente, o “Mal”. Coisas da modernidade.
A pergunta que fica quando termina a película é: Eles estão cegos, mas será que todos nós não estamos?
O que será necessário nos acontecer para que vejamos que caminhamos para um futuro sem humanidade? Onde foi parar o afeto?
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Adeus...
Hoje, cada estrela parece uma lágrima... Ainda que esteja furtando uma frase do Renato Russo, ela define muito bem meu sentimento hoje...
As lágrimas, a dor, a saudade, a angústia estão por toda parte... Meu coração parece que vai rachar de dor... Uma dor infinita, lancinante.
Porque quando eu era pequena, ela me carregava de cavalinho porque eu era muito magrinha e não agüentava subir a ladeira...
Porque ela tirou comida da própria boca para me dar...
Porque ela me dava banho com caco de telha para que eu não ficasse encardida...
Porque ela tinha o pé mais bonitinho do mundo e nós todas saimos a ela...
São vários os motivos... tantos e impossíveis de organizar...
Mas, é simplesmente porque ela foi quem me criou, me levou na igreja, segurou minha mão nas noites difíceis, me deu uma formação sólida e acreditava em mim plenamente, incondicionalmente e sempre...
Vovó querida, que Deus guarde você no melhor lugar que ele tiver... Que as melhores instalações do paraíso estejam reservadas a você e a minha querida tia...
E apesar da tristeza, não me sinto só... Eu nunca estarei só!
As lágrimas, a dor, a saudade, a angústia estão por toda parte... Meu coração parece que vai rachar de dor... Uma dor infinita, lancinante.
Porque quando eu era pequena, ela me carregava de cavalinho porque eu era muito magrinha e não agüentava subir a ladeira...
Porque ela tirou comida da própria boca para me dar...
Porque ela me dava banho com caco de telha para que eu não ficasse encardida...
Porque ela tinha o pé mais bonitinho do mundo e nós todas saimos a ela...
São vários os motivos... tantos e impossíveis de organizar...
Mas, é simplesmente porque ela foi quem me criou, me levou na igreja, segurou minha mão nas noites difíceis, me deu uma formação sólida e acreditava em mim plenamente, incondicionalmente e sempre...
Vovó querida, que Deus guarde você no melhor lugar que ele tiver... Que as melhores instalações do paraíso estejam reservadas a você e a minha querida tia...
E apesar da tristeza, não me sinto só... Eu nunca estarei só!
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