sexta-feira, 27 de março de 2009

Senhoras e senhores: Radiohead!


Este post tem que sair glorioso... rs
Era bom que saísse...

Uma pergunta.

Você conhece uma banda inglesa chamada Radiohead?

Outra pergunta

Você sabe o que é ser desajustado?

Não o desajustado interno e que usa uma máscara para ajustar-se, o desajustado que assume que não cabe, que não é e nem pode ser nada do já existente...

Talvez a única característica que une tantos desajustados... estranhos... seja justamente o não ajustar-se, mas por motivos muito diferentes.

Agora pense que você ama uma banda, que parece que canta para você. Faz hinos em homenagem a você, como se fosse uma mágica, alguém compreende tudo aquilo que se passa dentro de você.

“But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here.”

Aconteceu há uns anos atrás... Na MTV, rolava um clipe de um cara dentro de uma roupa de mergulho... A roupa ia aos poucos ficando cheia de água e um close desesperador mostrava um homem magro, branco, com dentes desalinhados, olhos desconexos, uma voz linda, inebriante, tocante. O olhar trazia um carisma, algo de doloroso que parece ter ligação direta com algo dentro de nós seres humanos. A compaixão. A troca.
Aquele homem sufocando dentro da roupa de mergulho implorava “No alarms and no surprises, please”.

Enfim, era a minha apresentação formal ao quinteto formado por Colin Charles Greenwood, Jonathan Richa Greenwood, Edward John O’Brien, Philip James Selway e Thomas Edward Yorke. O homem que se afogava era Thom Yorke.

Depois de “No Surprises”, eu iria descobrir que existia uma música que falava ainda mais diretamente comigo “Creep”, tida por muitos como uma canção óbvia demais, mas a minha preferida.

O que aconteceu no domingo, dia 22 de março de 2009, foi algo esperado por muito tempo por nós brasileiros. Finalmente, Radiohead estava no Brasil.
Às 21h45 já não dava mais para segurar a emoção, naquele palco lindo montado na minha frente, estaria, ao vivo, dentro de alguns instantes, em carne, osso e coração, a melhor banda do mundo, Radiohead.
Não é um exagero dizer que Radiohead é hoje a melhor banda do mundo, pense nos artistas que fazem sucesso hoje, pense em suas letras, pense na mensagem que querem passar. Pense nas inovações musicais. Pense em como trabalham o marketing. Após pensar em tudo isso, tente imaginar se há um álbum que seja a culminação de tudo isso como é In Rainbows. Você não vai conseguir porque não há nada melhor em nenhum quesito destes arrolados.
Radiohead é hoje a banda mais inteligente da atualidade. Produz o melhor som.
Do primeiro álbum até aqui, muita coisa mudou, a banda tem vários estilos. Aqueles que pensam que se trata de uma banda que canta em nome da tristeza, certamente conhece pouco da sua trajetória, senão, apenas “Creep”, o primeiro sucesso.

Muito bem sacado pelos organizadores do evento a apresentação dos robôs alemães, Kraftwerk... O som de todo mundo que utiliza algo de eletrônico é influenciado por eles. Eles são os pais da música eletrônica. E, é claro que o gênio Thom sabe disso...

Não posso deixar de dizer que a abertura do Los Hermanos foi uma emoção à parte para mim, fã incondicional do quarteto carioca. Foi muito bom cantar junto com a banda minhas músicas preferidas. Agradeço imensamente por cantarem “O vento”, “Último romance”, “A flor”. Naquele momento, eu fui toda voz e coração... Feliz... Feliz... Feliz...
Mas, a noite estava só começando. Após despedir-me de Amarante, Camelo, Medina e Barba, torcendo para que retornem em breve ao convívio de nós, fãs abandonados, aguardei ansiosamente pelo show do Radiohead. Foi divertido ver os robozinhos avisando “We are the robot”...
É, eu botei reparo que eles eram robôs... Não precisavam me contar não...

Escuro... desespero dos fãs... e, eis que surge com seu show tecnicamente perfeito... Radiohead...

O Thom Yorke é de um carisma inacreditável, com olhos cerrados, focados em um mundo seu, ou com dancinhas que lembram o memorável Ian Curtis, era todo sentimento...

Foi sensacional...

Para fechar com chave de ouro, aquela música que parece que foi feita só para mim, mas eu sei que foi feita para uma multidão de gente que se sente “descolada” como eu, não descolada que significa “legal”. Descolada do universo... “Creep” soou pelos alto-falantes e um palco pirotécnico acompanhava as batidas da música que, nessa noite, tenho certeza, não pareceu a ninguém óbvia.

Outro dia perguntaram para mim: Você conhece as músicas do Radiohead?
E, logo um complemento: Não toca no rádio...

É Radiohead toca pouco no rádio... Sabe por que?
Porque não é uma banda que faz músicas para a massa.
Eles fazem música para um tipo de fã especial, aquele que adora boa música e que tem QI para entender que sentimento é muito mais que cantar “I need you” para alguém.
Se você leu tudo isso que está escrito aqui e partilha da maior parte dos meus modestos “achismos”, você sabe do que eu estou falando. Não cabe a mim explicar.

Para minha querida parceira, irmã, amor da minha vida... Sorriso diário... Amor incondicional...
Obrigada por partilhar comigo deste momento tão lindo... Carregaremos a emoção deste dia para o resto das nossas vidas... Somos pessoas tão diferentes, mas ligadas não só pela carne, mas por aquele sentimento de desajustamento dito lá no início.

Somos hermanas, sempre...
Radiohead, sempre...
E, abertas a tudo... sempre...

A você que não foi... Sinto informar, perdeu o melhor show do mundo...


sábado, 14 de março de 2009

"A queda de Ícaro" de Pieter Brueghel

Musee des Beaux Arts W.H. Auden

About suffering they were never wrong,
The Old Masters: how well they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully
along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the plowman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O primeiro ano de faculdade...

Começo de ano é uma complicação, a bixarada eufórica quer fazer tudo para ontem. O professor fala: Leremos Watt para a próxima aula.
Quando ela cerra os lábios, três ou quatro malucos já estão na biblioteca e uma dúzia na xerox. Eles querem tudo para ontem.
As filas são quilométricas para tudo. A cantina fica sempre cheia. Os ônibus abarrotados de pobres coitados desesperados para ocupar os bancos tão suadamente conquistados da gloriosa Universidade de São Paulo.
As aulas magnas de todas as unidades ficam com lotação máxima. É preciso ver o ídolo de perto. Não é sempre que se pode ver e tocar (para os mais afoitos) João Adolfo Hansen, Betina Bischof, Ismail Xavier, Vanderlei Bagnato, (com sorte) Alfredo Bosi. É quase como tocar o céu por um segundo.
Acho bonito a euforia inicial... Me vejo neles... Não se trata nem do meu “eu” antes, trata-se do meu “agora”.
Eu ainda, por incrível que pareça, estou na fase do “quero mudar o mundo”. Será que vou querer até quando? Sempre me pergunto isso...
Outro dia, no filme Shortbus, ouvi uma frase incrível de umas das personagens:
- Antes eu queria mudar o mundo, agora eu só quero sair daqui com um pouco de dignidade.
Eu quero muito mais... Eu ainda quero fazer alguma coisa por este mundo aqui, deixar algo válido. Hoje, já penso que apenas apontar e perceber as coisas é alguma coisa, é mais do que a maioria consegue.
A USP fez isso por mim, me mostrou que sonhar é importante, sonhar é o que nos move na direção do alto, para o belo, o diferente, o além...
Para a bixarada, meus parabéns, desejo que a USP faça por cada novo bixo aquilo que fez por mim, mudou minha vida.
Eu vou continuar rezando pelo momento que eles vão se tocar que não precisam ser tão desesperados. Vão descobrir que a média é 5, que tem recuperação, que na USP não tem DP, afinal nós não pagamos, nós trancamos e fazemos de novo...
Não vou dizer que será fácil porque não será... Estudar na USP é matar um leão por dia. Se você imagina que passar no vestibular foi o auge das conquistas produtos de suas incríveis proezas juvenis, você descobrirá que a sua grande proeza será cumprir todos os créditos necessários para se formar. Incluindo as malditas matérias obrigatórias.
Vai descobrir que quando se estuda na USP é preciso ter uma idéia original para escrever um trabalho, que este trabalho tem que estar nas “normas da ABNT”, que você nem sabe o que é no primeiro ano.
No meu primeiro dia de aula deste ano, minha querida professora Elaine Sartorelli disse que eu sou uma estudante profissional. Alguns riram... Acham graça no fato de eu gostar tanto de estudar... Fazer o que? É a minha paixão.
Na verdade, ela me fez um grande elogio, sabe o que isso quer dizer?
Que aprender é comigo mesmo... Estou sempre aberta a aprender e sou estudante incansável. Após uma hora dentro de um ônibus lotado, num calor que 30 graus, ainda tenho ânimo para sorrir porque finalmente o ar da USP entra em meus pulmões. O cheiro do verde, do prédio antigo e a mesma velha e boa direção de pensamento. Estamos um passo à frente sempre, repudiamos o pensamento dominante.
Para vocês que passaram no vestibular e estão tão empolgados com a novidade que mal podem respirar, segue uma frase que figura nas camisetas vendidas nas lojinhas da universidade:
Estudar na FEI, R$ 1.500 mensais;
Estudar na Mackenzie, a partir de R$ 800 mensais;
Estudar na Metodista, a partir de R$ 800 mensais;
Estudar na USP, não tem preço porque tem coisas que o dinheiro não compra.
Bem-vindo!