sábado, 29 de maio de 2010

Sobre como eu trato a economia...

Nos meus trabalhos de revisão, vira e mexe, aparece alguma coisa sobre economia, fala-se da necessidade de guardarmos dinheiro para quando envelhecermos, tem um livro tosco, tosco, que fala sobre a necessidade de nós, mulheres, não sermos boazinhas se quisermos enriquecer, e o novo hit do momento, casais inteligentes enriquecem juntos!
Queria dizer umas palavrinhas a respeito...

Sobre o dinheiro para quando ficarmos velhinhos:
O tonto que aconselha que eu guarde sei lá quantos por cento do meu salário para quando eu ficar velha, não sabe que eu gostaria muitíssimo de viver agora mesmo, portanto, vai ficar difícil eu guardar todo o meu rico dinheirinho para quando eu ficar velhinha e estiver me arrastando por aí. Eu não gosto de praia agora e não vou gostar depois, portanto, quando eu for velha, é bem provável que eu faça as mesmas coisas que eu faço agora, com exceção da balada, acho que não vai rolar...
Bom, faz parte, é a vida, não dá pra encher a cara e dançar a noite toda para sempre, talvez dê para encher a cara, espero eu...
Além do mais, eu já pago a previdência, oras, e ainda tenho uma poupancinha, que é para caso algo estranho venha acontecer com a minha pessoa, mas eu não faço nenhum sacríficio, não, não...

Sobre a mulher boazinha:
Essa me ofende profundamente, porque eu sou essencialmente uma pessoa boazinha, é do meu caráter, eu não consigo, e nem quero, evitar... Se você assistiu ao último filme do Woody Allen lançado em terras tupiniquins, vai se lembrar que a maior parte das coisas que acontecem em nossas vidas, acontecem à revelia, então, continuarei a ser como sou, vem dando tudo certo por enquanto. Só passaram pessoas ótimas pela minha vida, só teve um desgraçado gaúcho, mas ele sofre daquela Síndrome de Asperge; a minha luta diária para ser "alguém", como dizem alguns tontos, vem dando certo, e tudo parece estar maravilhosamente ótimo... Até um novo e talvez eterno amor apareceu na minha vida...
Então, é tudo besteira essa história de que as boazinhas não enriquecem e nem chegam a lugar nenhum... Oras, bolas... que besteira sem fim...
Tudo sempre pode dar certo!

Sobre os casais:
hahahaha essa é piada né?
Como pode alguém achar que um casal deve pensar profundamente sobre enriquecer junto, não deve e nem precisa.
Amar é se enroscar embaixo do edredon, é dormir de conchinha, é ficar junto e rir junto, é achar a vida boa só porque um outro alguém transforma tudo todo dia com sua simples existência.
O amor não é aquela coisa brega e romântica da propaganda, é preciso ser realista, cada um é da maneira que é, mas é totalmente sensacional, quando, por algum motivo os deuses confabulam e te colocam no caminho alguém que parece ser a tal metade da laranja, alguém quase igual...
Para quê pensar em enriquecer... eu quero mais é ser feliz...
Desde o princípio, apesar de não ser nenhuma besta, a minha escolha sempre foi pela felicidade, o correto, o escolhido, sempre foi aquilo que me faz feliz and finish...

Para terminar... a vida é muito mais que juntar uns trocados, dinheiro é feito para comprar um bom livro, um ótimo vinho, um dvd, fazer uma viagem, comprar sapato, enfim, dinheiro é só aquela coisinha mágica que é capaz de comprar coisas que contribuem para sua felicidade e, se eu quero ser feliz hoje, não faz sentido nenhum eu guardar meu dinheiro para usar amanhã...

sábado, 1 de maio de 2010

Mary and Max

No sábado passado, eu pensei: Vou assistir a um filme bobinho, para variar, pensar demais cansa às vezes...
Então, ao ver o cartaz de Mary e Max – Uma amizade diferente, lembrei que já tinha visto o trailer e fiquei pensando que o Philip Seymour Hoffman, que faz a voz do Max, não ia aceitar fazer qualquer porcaria, sendo assim, devia ser um filme levinho com um toque de inteligência no mínimo. Descobri depois que Tony Collette (do maravilhoso Pequena Miss Sunshine) fazia a voz da Mary.
Foi uma surpresa, nada de filminho light, o diretor Adam Elliot construiu um panorama completo da vida de duas pessoas muito diferente. Mary é uma menina triste cheia de esperanças quando começa a se corresponder com Max, um quarentão sem qualquer esperança na vida.
Max é um personagem complexo, acumula um certo conhecimento de mundo, próprio de sua idade, mas é o que poderíamos chamar de “incompetente social”, mais tarde descobriremos que ele sofre da Síndrome de Asperger, que é algo bem difícil de explicar, então se você não sabe do que se trata, vá ao Wikipedia.
A linguagem doce de Mary, logo descobrimos, é fruto apenas de sua infância, afinal, não há doçura nenhuma na vida de Mary, assim como na de Max. São personagens que se unem por uma única coisa em comum, são seres essencialmente solitários. Mary parece estar sozinha por não gostar muito da imagem que vê no espelho e Max pelo problema já citado.
Não consigo não pensar nas definições de romance propostas por Lukács, no indivíduo que vive dentro do capitalismo, na solidão que isso causou, Mary e Max são exemplares genuínos desse mundo capitalista, e, ao mesmo tempo, nós que vamos ao cinema assistir a um filminho “levinho”, como eu disse de início, nos divertimos também à moda da sociedade capitalista. Diante da solidão, saímos de nossas casas e procuramos o conforto de um cinema quentinho, que mostre uma história bonitinha que nos traga alguma forma de conforto. Sim, porque ainda que sentemos ao lado de tantas outras pessoas, estamos todos dentro de nossa bolha particular, estamos todos, me parece, irremediavelmente sós.
Se o romance é a invenção do homem para ter uma diversão a sós, ou seja, provando que é possível ser feliz sozinho em casa, com um facho de luz a iluminar o livro, o cinema é uma evolução disso, é uma história que se conta em, no máximo, três horas e dentro dela, assim como no romance, somos chamados a viver uma felicidade que não é nossa, mas que, por algum tempo, parece ser. Os filmes hollywoodianos podem, em sua maioria, ser enquadrados nesta descrição, mas,Mary e Max, não, se você busca o conforto de um romance banal ao ir ver este filme irá, literalmente, quebrar a cara, sairá da sala um tanto triste, carregando um sentimento de melancolia e a sensação de que alguma coisa dentro de você foi bagunçada, e é isso mesmo... Todos os dramas do indivíduo moderno são remontados bem ali na tela, em um curtíssimo espaço de tempo, 80 minutos, uma hora e dez minutos.
A classificação fala que o filme pode ser visto por crianças a partir de 12 anos, pelo que eu disse até agora, você acha que é possível para uma criança desta idade ver um filme assim?
Não é mesmo.
Cheio de sacadas inteligentes, o filme “levinho e reconfortante de sábado à noite” se transformou no melhor filme que eu assisti neste ano, e não foram poucos.
Mesmo com o sentimento doído de melancolia, podemos dizer que o filme é muito bonitinho, não um bonitinho bobo, a beleza está na sinceridade com que é contado, pelo singelo das imagens, pela linda trilha que ajuda a formar toda a atmosfera de cotidiano retratada no filme. Um cotidiano que se repete e se repete e se repete, a quebra se dá por algumas desgraças inevitáveis, mas a beleza está na amizade construída pelos personagens à distância, esta é uma quebra definitiva no cotidiano de Mary e Max, uma carta colocada na caixa do correio muda a cadência e o significado de duas pessoas tão diferentes. A existência de uma modifica a da outra. Max faz sua primeira amiga na vida, uma menininha que queria saber de onde vinham os bebês em Nova Iorque. E Mary faz seu primeiro amigo, um adulto em quem pode confiar, que, apesar da diferença de idade, gosta das mesmas coisas que ela.
Nós, sujeitos modernos, parecemos buscar eternamente uma fuga, que acontece, quase sempre, pela arte, buscamos na arte a nossa redenção, a nossa salvação, como queria Goethe, mas, ao assistir o filme, pensei em algo bem mais simples, em uma mensagem bem pura e desprovida de grandes pretensões, assim como a animação feita com bonequinhos de argila na era de Avatar, James Cameron e a superimagem 3D; às vezes, algo bom está apenas do outro lado da rua, está no aproximar-se de outras pessoas e sair um pouco da bolha, é enxergar o outro, afinal, a maioria de nós não tem fobia de pessoas, nem Síndrome de Asperger como os personagens do filme, mas vivemos como se todos sofrêssemos de uma dessas doenças. Uma amizade, um amor ou um ente querido tem o poder de modificar o mundo à nossa volta, como modificou a vida de Mary e Max.
Uma ótima mensagem do diretor Adam Elliot, perfeita para os dias de hoje, filme excelente!