segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Meninos e Meninas

E é sempre a mesma ladainha...
Menina conhece menino. Menino pega o telefone da menina. Combinam de sair, duas, três vezes no máximo. Ele é sempre bobo, vivendo no mundo como se tudo isso aqui fosse uma festa que nunca vai ter fim...
Tem a outra possibilidade, às vezes, os meninos não ligam mesmo e nem pedem o tal telefone. Quando a resposta para o que ele faz da vida é: Sou formado em educação física... daí a coisa desanda mesmo.
- Boa noite, foi muito bom te conhecer, nos encontramos por aí!
Diversas coisas estranhas acontecem, meninos que dizem que vão a lugares nos quais nunca comparecerão, meninos que ficam desesperados por você por uma semana até obterem aquilo que desejam... O nome me veio à boca agora, mas mantenhamos o nível, afinal eu estava lendo Clarice Lispector agora mesmo, mestre em dizer as coisas da maneira mais doce possível. A mulher mais pequenina do mundo, por exemplo, ao ver o caçador, se coça em um lugar no qual não deveria coçar... Entende a sutileza?
Eu, obviamente, não sou Clarice, mas é um bom plano tê-la como meta de escrita.
Mas nesse vai e vem, neste burburinho de meninos e meninas, sem essa nem aquela, aparecem bons meninos, raros meninos, meninos doces, constrangidos, que balançam nossa mão de maneira inocente, que desviam o olhar quando encarados, que pegam telefone, msn, twitter, facebook e, quando chegam em casa, tratam logo de adicionar, ou seguir, a menina em tudo isso.
Pois é, meninos assim existem!
Porque nessa interminável dança das cadeiras é sempre tudo a mesma coisa, isso cansa um pouco, a gente fica escolada, esperta demais para os meninos e é aí que reside o problema de não se ter mais 20 anos, por isso tantos rapazes preferem as menos experientes, as fáceis de enrolar, as que não viveram ainda, sempre com aquele ar de fragilidade que homens, seres tão frágeis, gostam tanto.
Como apaixonar-se por alguém sem este ar, alguém que absolutamente não precisa mais ser protegido?
Acredite, há meninos que adoram meninas espertas, inteligentes, independentes e com apenas um tantinho de fragilidade, afinal, todos nós guardamos alguma fragilidade, algo que dói, que machuca, ou que simplesmente tememos.
Destes tantos meninos, alguns se tornam amigos, bons amigos e, de repente, nos tornamos amigas até de suas frágeis namoradas. Nasce uma amizade onde menos se espera, afinal a bobagem que o tornava incapaz de se transformar na coisa amada é totalmente compreensível dentro dos laços de amizade. Porque amizade é assim: compreensão, gostar sem fronteiras, abraço apertado de saudade verdadeira.
Ainda que às vezes seja cansativo brincar deste jogo, não se pode evitar a brincadeira, ela nos traz de volta à vida, ela dá sentido, completa algo que falta, o tum tum do coração. O coração a ponto de ser cuspido, de tanto que não cabe no peito. Os sobressaltos a cada barulhinho do celular... Ainda que na maioria das vezes tudo isso acabe em flor murcha, é divertido ficar esperando para ver onde a brincadeira vai dar, é gostoso criar falsas expectativas.
A única coisa da qual sinto falta é a ingenuidade, de realmente acreditar e esperar, aguardar silenciosamente porque acredito. Eu não acredito e por isso não espero, eu faço a coisa toda acontecer ou simplesmente faço logo que não aconteça de uma vez, o que deve assustar demais os bobos... Então, às vezes, tenho que me fazer de rogada e fazer a inocente... Pelo menos para não dar um susto.
Porque eu carrego comigo uma sequência grandiosa de sustos, é o Machado de Assis embaixo da cama, é o falar russo, é o qualificar as pessoas em aptas a ler Dostoiévski ou não, são as músicas melancólicas ou a clássica, são as baladas constantes.
Mas o grande problema mesmo comigo, o que certamente mais apavora homens e mulheres é que eu sou livre, o meu grande problema é eu ser livre... Outra vez Clarice.
Pensa aí consigo na palavra liberdade, no que isso quer dizer para uma mulher de 20 e muitos anos...
Um exemplo simples: Você me conta um caso sobre uma patricinha, que tem seu maravilhoso tênis super caro roubado, ao final da história, você conclui que tudo é um absurdo e que não existe mais segurança em lugar algum e olha para mim com olhar inquiridor, querendo a minha concordância.
Mas, de repente, eu vou olhar para você e dizer que entendo completamente o ladrão e você achará que eu estou completamente maluca, e eu direi que não há necessidade de andar com um tênis que custe mais que um salário mínimo porque tem gente que vive com um único salário mínimo... Este tênis é uma afronta.
Daí você deve estar se perguntando onde fica a liberdade da menina de poder usar seu tênis em paz, eu respondo: É preciso lutar pela liberdade, é preciso ter argumentos, fundamentos para fazer a sua liberdade valer, é preciso compreender o mundo em que se vive.
Mas tudo isso para mostrar de que liberdade eu falo, a liberdade de descordar da massa, a liberdade de relativizar muita coisa... Afinal, o Machado de Assis embaixo da cama não é à toa.
Pois é, eu sou desse tipo de menina, uma confusão...
Ainda que não me agrade muito um certo tipo de meninos e meninas, eu sei que cada coisa vem a seu tempo, para uns não vem nunca, por incompetência mesmo, mas as transformações, os entendimentos vêm em tempos diversos para cada um de nós, e o bobo e a frágil de hoje virão a se transformar em seres humanos formidáveis em um outro tempo. E, com formidável, não quero absolutamente dizer que se transformarão em seres próximos de mim, porque eu sou uma bagunça, eu gosto do velho, do antigo, das sensações primeiras, como diz Rodrigo Amarante: Eu gosto é do gasto!
Cada um há de achar aquilo que o fará feliz e não há nada mais formidável do que a felicidade!

Ao som de Clair de Lune de Claude Debussy

sábado, 9 de janeiro de 2010

Escolhas

Difícil fazer escolhas...
Será que é a melhor, ou a pior? Eu me arrependerei?
É bem provável que tenhamos arrependimentos e melhorias ao tomar uma decisão.
Uma escolha nunca é plena de acerto nem de erro, abrimos mão de algumas coisas por querer outras e, às vezes, aquelas coisas que deixamos partir nos faz falta por algum motivo. Enfim, faz parte!
Viver é escolher, escolhemos sempre, o tempo todo. Outro dia assisti um episódio de Doutor House em que uma garota teve uma doença que por um instante a impossibilitou de escolher, não conseguia, não podia escolher porque qualquer coisa estava errada com o cérebro dela. Imagine a vida sem poder fazer escolhas.
Eu não posso imaginar, a gente gosta tanto de escolher e sempre ficamos tão chateados quando algum espertinho se mete a fazer nossas escolhas.
Eu escolhi ser feliz.
Escolhi não depender de ninguém até o tanto que é possível.
Escolhi que meu horário predileto para coisas do espírito é a manhã.
Escolhi não comer carne porque acho nojento.
Escolhi estudar na USP.
Escolhi fazer Letras, o que diz muito de mim, porque coloquei a felicidade em primeiro lugar. Só que seres mágicos que rondam a minha vida conspiraram para que a minha felicidade resultasse em ganhos também.
Escolhi que ler é a melhor coisa do mundo...
E só foi possível escolher tudo isso entre tantas outras coisas porque eu fiz uma grande escolha, a de me escolher como ser humano, decidi que minha vida está em primeiro lugar.
Às vezes, eu penso nas coisas que deixei para trás ao fazer minhas escolhas, mas não me arrependo. Nem sempre faço as escolhas certas, mas quero viver de um modo que, ao final da minha vida, em algum lugar esteja escrito:

"ELA VIVEU DA MANEIRA QUE QUIS"