sábado, 27 de dezembro de 2008

Alegria


Parece-me, cada dia mais, que há uma falta de talento de minha parte para conviver com outros sujeitos.
Há em mim qualquer coisa que repele as pessoas, eu as atraio pelo sorriso largo, como gostam de dizer, pelo humor, muitas vezes ácido, mas apreciado por elas. No entanto, sinto que quando se aproximam de verdade de mim, de quem realmente sou, desistem de estar perto e, pior, antes que desistam, eu mesma desisto por medo que o façam antes de mim.
Há certa dificuldade por parte de todas as pessoas do mundo, creio eu, de encontrarem pessoas iguais, aquelas nas quais vêem um espelho, eu conheço alguém assim, em tudo lembra a mim mesma, exceto pela ausência de moralidade, talvez simplesmente seja dificuldade de aceitar que exista de fato uma moralidade, acho que sabe que ela existe...
Enfim, esta pessoa reflete aquilo que de mais guardado há em mim e por vezes sinto-me atraída pelo espelho, mas, uma vez refletida nele e ele refletido em mim, vai-se embora todo o encantamento. Dois repelentes feitos de matérias diferentes. Vejo nele a minha própria incapacidade de ser para alguém mais que uma confidente.
Veja bem, não se trata de incapacidade de entender o humano, eu o entendo. Ah como eu o entendo, até dói... Trata-se de impossibilidade de fazer a tão ansiada troca, aquilo pelo que buscamos todos os dias. Alguém que nos compreenda, gostaria de não ser a única a compreender.
Busco por algo que parece não existir, queria alguém que estivesse em pé de igualdade comigo. Essa afirmação soa tão pedante! Mas não é... Juro! Não é.
A igualdade, se é que existe, penso ser alguém que tenha a me oferecer algo na mesma altura que eu tenho para oferecer. Algo que não é a mesma coisa que eu ofereço é outra coisa, mas tão boa quanto e da qual eu precise desesperadamente.
Pensando na vida da escritora Jane Austen, fico me perguntando quais os motivos de tudo estar tão repugnantemente parecido com sua época... Deve restar a alguém como eu, a aceitação de que não terá uma felicidade terrestre. Será?
Nietzsche diria que é o preço que se paga por alcançar algo maior, diria que para se chegar às esferas superiores é preciso superar a necessidades das inferiores. Amores são então coisas comezinhas. Custa caro estar neste lugar!
Custa muito caro, bem venturado Nietzche! Mas, ao menos um de seus aforismos eu posso dizer que já comprovei: “O que não me mata, me fortalece!”.
É verdade...
Divagações à parte, talvez caiba a mim o mesmo quinhão que coube à Jane Austen, espero apenas que, como ela, eu toque, nem que seja com a ponta da unha, a composição do sublime.
Ao som de O Velho e o Moço (Rodrigo Amarante)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lá vem o Natal...

Montes de gente emocionada, felizes, embaladas pelo tal ‘espírito natalino’.
Eu curto o Natal, acho legal isso de todo mundo ficar bonzinho, querer ligar para a mãe que mora longe, falar com o irmão vagabundo, querer ajudar criança de farol... Acho bem legal...
O que me irrita são as compras, a gente sai na rua e está todo mundo lá: Vai um não sei o que? E um não sei que lá? O preço é especial para o natal...
Ahhh cansa né?
Eu fico cansada demais saindo na rua nestes dias. Eu vou na rua e compro umas coisas e depois, quando chego em casa, fico olhando e pensando: “Por que raios eu comprei isso?”
Eu não estava precisando de nada e estava tudo bem. O plano era comprar um pisca-pisca, um guarda-chuva bom e uma luz companheira, vulgo abajur (porque tenho medo do escuro).
Plano feito... Vamos às compras... Luz, câmera e ação: Camila, Flávia e Cristiane na rua...
O pisca-pisca eu comprei, muito bonitinho, um que chama pisca-pisca arroz; o guarda-chuva também foi comprado, mas eu não sei se é bom ou não, no fim das contas tudo que eu queria era uma coisa rosa e prata porque é lindo e é a minha cara (a perua falou mais alto dentro de mim). A luz companheira foi comprada também como o planejado... Mas, de repente, lembrei que meu creme com pó de mica (um que brilha) tinha acabado e que precisava de uma toalha bem fofinha e vermelha. Itens comprados...
Não sei bem como foi que aconteceu, sei que coloquei uma melissa no pé e ficou linda, branca, com salto bonito, tudo de que me recordo é de mim saindo da loja com a sacola na mão. Eu comprei uma melissa, a Camila comprou uma e a Cris comprou outra... Como pode? E sabe por quê?
Porque é Natal...
O que tem a ver uma coisa com a outra?
O Natal existe porque o menino Jesus, o Messias, que veio para salvar o mundo, nasceu. Ele nasceu em uma manjedoura, segundo me consta, o que tem ele a ver com o capitalismo e as compras? Eu sei muito bem como a coisa degringolou para isso, mas isso é papo para um outro post.
Eu cheguei em casa e fiquei olhando para aquele sapato, de plástico, magicamente lindo (fetiche), como se ele fosse um alienígena. Como ele foi parar ali em cima da minha cama?
Maldito seja o capitalismo que consegue envolver em sua teia até mesmo a mim que até russo falo...
O vendedor Otávio da khelf nunca vai esquecer as três irmãs que passaram pela loja dele no sábado...
Quem aí usa 36?
- Ah moço só a Cris usa 36...
- 36? Não passa nem uma das minhas pernas... Sacanagem...
36 está na promoção porque só gente de mentira usa este tamanho...
Enfim, depois de muitas risadas e uma felicidade natalina, é verdade, nós três fomos para casa cheias de comprinhas inúteis, fora o guarda-chuva e a luz companheira (senão não durmo).
Não sei como, mas záz... lá estavam: uma melissa, um guarda-chuva, duas toalhas de banho, um creme com pó de mica, um blusinha, filmes, um pisca-pisca, uma luz companheira e minha barriga lotada de comida japonesa e um sorvete que não vale o que custa...
Eia... uplá... maldito capitalismo e maldito Papai Noel.
Mas, benditas sejam as minhas irmãs que custam exatamente mil sorrisos...
Agora é tomar banho, me enrolar na toalha e ligar o pisca-pisca para esperar o Natal.